Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, Tati Bernardi
Não exagero se vos disser que há muito tempo que não me ria tanto com um livro, muitas vezes até alto e sem me conseguir controlar. Comprei Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha de Tati Bernardi na Feira do Livro de Belém, na banquinha da Tinta-da-China, depois de ter ouvido falar muito bem da escrita dela.
Como o outro livro que ela tem (Depois a Louca Sou Eu) é não-ficção, fui um bocadinho ao engano e tive uma agradável surpresa quando percebi que este livro era um romance e não um conjunto de crónicas como eu esperava. Karine está prestes a ser mãe e conhecêmo-la numa consulta com a enfermeira Beth — na realidade, vamos acompanhando várias consultas e são esses momentos que servem de porta para flashbacks e desabafos da personagem sobre a sua infância, a relação com a mãe, a sua vida amorosa e as expectativas que tem para esta gravidez.
Ser adulto é passar mal e querer sua mãe mas ja ser mãe e seu filho querer você. Então é como se a gente agendasse ficar mal para o outro ano, para outra vida. Agora não dá tempo de cair. Pular da janela está programado para quando meu filho estiver indo pra faculdade. Me desesperar, estou sem horário nesse semestre. Crise de pânico, tentei encaixar, mas não encontrei data.
Quando sabe que está grávida de uma menina, a mãe diz-lhe “Você nunca mais vai ficar sozinha” e eu acho que não há melhor forma de resumir este livro, que navega nas relações entre mães e filhas — obviamente aqui levado ao extremo, com laivos de neurose e muito sarcasmo. Acho, aliás, que esta narrativa me conquistou precisamente por conseguir um equilíbrio perfeito entre momentos com extrema piada e outros com muita tristeza.
Quando você é criança e a sua amiga é criança e a mãe dela morre, isso sim significa uma mãe morrer. A mãe de uma criança morrer é a morte de uma mãe em pleno estado de mãe. E uma mãe em toda a sua plenitude morrer é uma dor sentida, de alguma forma, por todos os filhos e todas as mães do mundo.
Recomendo muito que o leiam, está muito bem escrito e quase de certeza que se vão identificar com algumas das dinâmicas entre as personagens, mesmo que não tenham tido filhos ou tenham uma relação saudável com a vossa família. Já encomendei o Depois a Louca Sou Eu, porque quero muito continuar a acompanhar a escrita de Tati Bernardi. E vocês, conhecem a autora?