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Rita da Nova

Qui | 14.11.24

The Vanishing Act of Esme Lennox, Maggie O’Farrell

Esta leitura é fruto de um blind date with a book comprado em Amesterdão. Embora tivesse deixado o livro aqui por casa durante bastante tempo, ter gostado de I Am, I Am, I Am — depois de uma experiência não tão boa com Hamnet —, fez-me ter alento redobrado para o começar, e ainda bem que o fiz.

 

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The Vanishing Act of Esme Lennox, de Maggie O’Farrell, é diferente de tudo aquilo que li até hoje. O facto de ser uma história contada a três vozes intercaladas, sem haver um único capítulo, fez-me ter algum receio ao início, mas passada essa estranheza inicial entrei bastante bem na narrativa. Acompanhamos três mulheres da mesma família: Iris, que mantém um relacionamento com um homem casado e não tem a certeza de querer mais do que isso; Kitty, a sua avó, que está num lar e tem demência; e Esme, a tia-avó que não sabia que tinha, visto que Kitty sempre lhe dissera ser filha única. Certo dia, Esme recebe um telefonema de um hospital psiquiátrico, onde Esme estava há mais de sessenta anos: é a familiar mais próxima e tem de ir buscar a tia-avó porque o hospital vai fechar.

 

O que encontramos neste livro é uma exploração profunda do trauma familiar, da forma como os segredos vão ganhando raízes profundas e acabam por ter consequências graves. Gostei de tudo aqui: da escrita que saltita entre pontos de vista, às vezes a meio de frases, para imitar a forma como os nossos pensamentos funcionam, sobretudo quando sofremos de doenças mentais; das três mulheres protagonistas, todas elas imperfeitas; do facto de tratar temas em torno dos quais gravito naturalmente.

 

We are all, Esme decides, just vessels through which identities pass: we are lent features, gestures, habits, then we hand them on. Nothing is our own. We begin in the world as anagrams of our antecedents.

 

Além de tudo o que já referi, The Vanishing Act of Esme Lennox aborda também a tendência de se internarem mulheres porque estas procuravam vidas que não iam ao encontro do expectável, um ato que pode parecer antigo, mas que ainda tem ecos nos dias de hoje — quantas vezes não olhamos de lado quem é diferente? Confesso que este livro me deu outro fôlego para continuar a experimentar outros livros de Maggie O’Farrell, por isso, digam-me: há algum que me recomendem?