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Rita da Nova

Sex | 13.09.24

Solitária, Eliana Alves Cruz

Nunca tinha ouvido falar de Eliana Alves Cruz até Solitária me chegar cá a casa, num generoso envio por parte da nova editora À/Parte (muito obrigada!). Fiquei logo apaixonada pela capa e soube pela sinopse que se tratava de uma história contada a duas vozes: são duas mulheres negras, uma mãe e uma filha, que moram num quarto pequeno, na casa onde a mãe é empregada doméstica.

 

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No início do livro, Mabel, a filha, tenta convencer a mãe a libertar-se daquele emprego onde os patrões são demasiado dependentes dela, muitas vezes a custo da própria liberdade de Eunice. A partir daí, leva-nos ao passado e mostra-nos como é viver assim, num condomínio de luxo, sem poder mostrar que se existe e sem ocupar mais espaço do que o pouco que lhes foi atribuído. Mais tarde, sensivelmente a meio do livro, mudamos de perspetiva e vemos as coisas aos olhos de Eunice, percebemos porque é que vai permanecendo ali.

 

Gosto muito de livros que dão voz às pessoas comuns, sobretudo às que infelizmente não têm essa representação nas histórias que consumimos, sejam elas em que formato forem. Mabel, Eunice e as outras personagens do livro, principalmente as que fazem parte do edifício Golden Plate sem realmente lhe poderem chamar casa, soaram-me todas bastante reais e são o reflexo das lutas que tantas pessoas enfrentam todos os dias. E, também, a forma como por vezes basta que uma pessoa questione e tente romper com os padrões para que, de repente, quem está à volta consiga vislumbrar um futuro diferente para a comunidade.

 

Quando alguém me pergunta se aconteceu alguma coisa grave, digo que sim e não. Não aconteceu nada, e não acontecer nada era grave. Sei lá porque todo mundo acha que tragédia acontece de repente.

 

Em geral foi uma excelente leitura, achei a escrita da Eliana muito escorreita — acho que há excelentes escritoras brasileiras contemporâneas para descobrir e esta é, sem dúvida, uma delas. A única coisa de que não gostei tanto foi do facto de as vozes das duas mulheres não serem muito diferenciadas. No fundo, lemos dois testemunhos na primeira pessoa, mas a forma como estas duas mulheres falam pareceu-me, por vezes, muito semelhante e sem grandes traços distintivos. Isso fez com que me fosse complicado entrar na segunda parte do livro, uma vez que as narradoras se confundiam na minha cabeça.

 

De qualquer das formas, recomendo muito este livro e fico com muita vontade de ler mais coisas desta autora. E vocês, já a conheciam? Ficaram com vontade de conhecer?

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