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Rita da Nova

Ter | 26.08.25

Reviews Relâmpago #5

Bom, parece que esta coisa das reviews relâmpago se transformou num formato mais recorrente do que antecipava. Contudo, dada a quantidade de idas e vindas, de dias passados longe de casa, e de planos que se atropelam uns aos outros, não tenho outra forma mais rápida de vos pôr a par das minhas leituras. A «leva» de livros que vos apresento hoje é bastante heterogénea, tanto no tipo de leitura como na minha opinião sobre o que li — acho que há muito tempo que não andava por sítios tão díspares nas minhas aventuras literárias.

 

Já sabem que podem sempre deixar as vossas questões sobre estes (e outros livros), caso sintam que não explorei o suficiente, mas agora, sem mais demoras, aqui ficam:

 

One Day, Everyone Will Have Always Been Against This, Omar El Akkad

Uma leitura absolutamente obrigatória para os dias de hoje. Tendo por base o genocídio na Palestina, e tudo o que levou até este momento, acaba por ser muito mais do que um relato de um jornalista sobre o que se passa na Faixa de Gaza. Omar El Akkad vai bem mais fundo sem perder clareza, e é uma espécie de carta aberta ao ocidente, principalmente a um grupo pequeno de países que acaba por governar o mundo inteiro. Fala dos Estados Unidos da América, claro, mas não deixa de lado o impacto de países como o Reino Unido, a Alemanha e a França.

 

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O autor parte da sua experiência enquanto jornalista, claro, mas acima de tudo da sua vivência enquanto emigrante que cresceu completamente mergulhado na narrativa ocidental. Omar El Akkad alerta-nos para o perigo desta forma de ver o mundo, estabelece comparações com outros massacres que aconteceram no passado, e desafia-nos a contrariar essa tal narrativa com que somos impactados diariamente. Gostei muitíssimo, e recomendo o audiolivro para quem se sentir confortável com o formato.

 

 

A Boba da Corte, Tati Bernardi

Nem sei bem o que dizer sobre esta leitura, sabem? Sinto que as minhas experiências com Tati Bernardi têm sido gradualmente a descer: adorei Você Nunca Mais Vai Ficar Sozinha, gostei de E Depois a Louca Sou Eu, mas este A Boba da Corte não me convenceu nem um bocadinho. É um livro de autoficção em que a autora reflete sobre as diferenças de classe, sobre ter nascido num contexto muito diferente daquele em que se movimenta atualmente. Bem sei que a ideia era mesmo ser um livro autodepreciativo, mas claramente eu não sou o público alvo.

 

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A Noite da Tempestade, Filipa Amorim

O segundo romance da autora, depois d’A Corrente, e uma abordagem muito mais madura, tanto na prosa como na história. Notei uma evolução muito grande neste livro face ao anterior, sobretudo no que diz respeito à concisão: é evidente que a Filipa trabalhou melhor essa capacidade, que procurou formas de ser mais económica nas palavras, sem perder as descrições que já começam a ser características da escrita dela.

 

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Embora nos apresente uma investigação criminal completamente separada da do primeiro livro, A Noite da Tempestade leva-nos de novo até Santa Cruz, uma terra de mau tempo — e que em tudo condiz com o tom desta história. Sofia, jornalista e autora de livros de mistério, vai então de férias para Santa Cruz, para a casa do irmão que morreu. Este refúgio começa por ser uma forma de se ligar à memória do irmão, de se sentir mais próxima dele, mas tudo muda quando, depois de uma tempestade noturna, um corpo é encontrado junto à casa. Sofia vê-se envolvida nesta investigação, e resolver o caso poderá revelar muito mais do que ela antecipa. Pus o chapéu de investigadora durante a leitura, e acabei por descobrir tudo antes de tempo, mas acredito que leitores que não sejam desmancha-prazeres como eu são capazes de se divertir muito com esta leitura.

 

 

The Seven Year Slip (PT: Sete Anos Entre Nós), Ashley Poston

Queria uma leitura mais leve para terminar o mês de julho, e lembrei-me de que tinha este livro no Kobo há meses. Já tinha lido The Dead Romantics (PT: O Amor Não Morreu) e, embora não tenha adorado, também não foi uma leitura péssima. Este, contudo, chamava-me muito a atenção pela premissa: Clementine perdeu a tia, que era a sua pessoa favorita no mundo inteiro, mas que lhe deixou o apartamento em Nova Iorque, onde passaram tanto tempo juntas. Ora, ela sabe desde sempre que este apartamento tem propriedades mágicas: sem que se perceba quando ou como, há alturas em que aquele espaço viaja no tempo e transporta as personagens para sete anos antes. É numa dessas «viagens» que Clementine conhece um homem que tem tudo para ser perfeito — só que está perante um caso literal de «pessoa certa no momento errado».

 

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Gostei muito da história e das personagens, e achei que tinha realismo mágico na medida certa. Pode não ser um livro muito sério ou pesado, mas sem dúvida que trata de temas importantes — como o luto — com bastante respeito e carinho. Adorei a representação da relação de tia e sobrinha, e recomendo muito para quem quer uma leitura mais leve, mas não menos tocante.

 

 

Slaughterhouse 5 (PT: Matadouro 5), Kurt Vonnegut

Tinha tanto medo de ler este livro que acabei por adiar durante anos e anos. Aliás, tinha tentado uma vez e, como não avancei grande coisa, acabei por deixar assim, na esperança de lá voltar brevemente. Foi preciso um empurrão do Discord do Livra-te e a companhia de algumas pessoas para o ler, e não é que gostei bastante? É um clássico americano, considerado um dos maiores livros anti-guerra de sempre, e foca-se precisamente no bombardeamento da cidade de Dresden durante a II Guerra Mundial.

 

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Se tivesse de descrever Slaughterhouse 5 numa palavra, escolheria «inesperado». Houve várias coisas neste livro que não esperava: não esperava que tivesse um humor tão caustico, não esperava que misturasse ficção histórica com ficção científica, e certamente não esperava que fosse um livro dentro de um livro. Gostei muito de entrar dentro da cabeça de Billy Pilgrim, de viver algum do stress pós-traumático através da forma original como esta história é narrada. Aqui fica o vosso sinal para o lerem, caso sejam como eu e andem a protelar!

 

 

Pergunto sempre o mesmo, e desta vez não vai ser diferente: já leram algum destes? Se sim, o que acharam? Se não, ficaram com vontade de ler algum?