Real Life, Brandon Taylor
Fui vendo Real Life, de Brandon Taylor, um pouco por toda a parte — aliás, o algoritmo do Kobo fartou-se de mo recomendar com base nas minhas leituras. Há uns meses, enquanto passeava na Livraria da Travessa, encontrei-o com uma capa que nunca tinha visto e decidi trazê-lo finalmente para o ler.
O livro centra-se em Wallace, negro e gay, enquanto está na Universidade a licenciar-se em bioquímica. Embora tenha tido facilidade em integrar-se num grupo de amigos, Wallace mantém sempre uma certa distância deles — nunca consegue pertencer completamente, sente-se sempre um estranho no meio daquelas pessoas. Achei a premissa muito interessante, mas a minha atenção desfocou em todas as cenas passadas em laboratório: não achei que fossem essenciais para mostrar situações de racismo ou para definir melhor a personagem do Wallace.
The most unfair part of it, Wallace thinks, is that when you tell white people that something is racist, they hold it up to the light and try to discern if you are telling the truth. As if they can tell by the grain if something is racist or not, and they always trust their own judgment. It's unfair because white people have a vested interest in underestimating racism, its amount, its intensity, its shape, its effects. They are the fox in the henhouse.
Por outro lado, adorei todos os momentos de interacção daquele grupo de amigos, senti-me muitas vezes como se estivesse sentada com eles na esplanada ou num jantar em casa de um deles. Isto para dizer que o livro poderia ser só isso, que teria tido exactamente o mesmo impacto. Tanto nessas cenas como em todas aquelas entre Wallace e um rapaz específico do grupo, senti-me como se estivesse a ler Sally Rooney, sobretudo na forma como o trauma das personagens se vai revelando nestas interacções — o que, vindo de mim, acaba por ser um elogio.
Memory sifts. Memory lifts. Memory makes due with what it is given. Memory is not about facts. Memory is an inconsistent measurement of the pain in one's life.
O livro ainda não está traduzido para português e também não é daqueles que recomendo vivamente — se a temática vos interessa, se gostaram de Sally Rooney e de A Little Life, talvez seja uma boa opção para vocês. Caso contrário, passem! Contem-me lá: já conheciam o livro e o autor?