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Rita da Nova

Ter | 12.08.25

Prophet Song, Paul Lynch

Lembram-se de vos ter falado de The Bee Sting (PT: A Picada de Abelha), de Paul Murray? Esse livro foi finalista do Booker Prize em 2023 e, quando o terminei, havia uma questão que não me saía da cabeça: como é que não ganhou o prémio? Confesso que parti cética para a leitura de Prophet Song (PT: Canção do Profeta), de Paul Lynch, o vencedor desse ano, porque achava que nada me conseguiria surpreender tanto quanto The Bee Sting — pelos vistos estava enganada.

 

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Trouxe-o para o Clube do Livra-te de agosto, um mês de transição tendo em conta as mudanças anunciadas no último episódio da temporada, e bastaram-me poucas páginas para compreender que estava perante um dos meus favoritos do ano. Ao início, parecia que estava de volta à sala de cinema onde vi Ainda Estou Aqui: numa Irlanda do futuro — não muito distante da atual — Larry Stack, professor e líder de um sindicato, é preso e mantido assim pelo regime de extrema-direita que se instalou tempos antes. A partir daí cabe a Eilish, mulher de Larry e mãe de quatro filhos, salvar a família.

 

A prosa de Paul Lynch é claustrofóbica, há poucos sinais de pontuação, e embora seja preciso um ajuste inicial por parte do leitor, a verdade é que contribui para o ambiente geral do livro. É sempre publicitado como um romance distópico, e eu acho que é o melhor tipo de distopia: baseia-se em coisas que aconteceram (nomeadamente no conflito entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte) e mostra-nos uma realidade que, se não tivermos cuidado, poderá vir a ser o nosso futuro. Aparentemente simples, mas brilhante.

 

Look, Carole, I've heard enough of this, I won't listen to rumours you can pick up off the street, they do more harm than good, nobody knows anything, there is a total absence of facts, you've ceased to believe, that's all, but you must continue to believe, there cannot be despair where there is doubt and where there is doubt there is hope.

 

Adorei o desenvolvimento das personagens e a forma como, numa só família, o autor conseguiu representar as diversas formas de reagir perante um sistema opressor: há quem ache que o melhor é ficar quietinho num canto, há quem ache que é preciso lutar, há quem ache que não há outra forma senão fugir, há quem ache que a solução está algures aqui no meio. Além disso, achei perfeita a forma como Paul Lynch criou a personagem do pai da Eilish, um senhor que sofre de demência, mas não deixa de ser a voz da razão em muitos momentos — a relação de Eilish e Simon foi a «desculpa» perfeita para falar de memória, e de como o passado muitas vezes se repete.

 

Não sendo uma leitura fácil, sem dúvida que puxa muito por nós, que nos obriga a pensar em como reagiríamos se fizéssemos parte desta família. Creio que é um livro essencial para ser lido hoje em dia, porque se não tivermos cuidado e não estivemos atentos, mais cedo ou mais tarde acabaremos por estar na mesma situação que os Stack.

 

Já o leram? Se sim, o que acharam?

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