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Rita da Nova

Sab | 25.11.23

Penance, Eliza Clark

Há umas semanas tive a sorte de poder entrevistar a escritora Eliza Clark, a propósito da chegada de Boy Parts, o seu primeiro livro, ao mercado português. No meio da conversa (que podem assistir aqui), acabámos por falar da dificuldade de escrever um segundo romance e ela explorou um pouco o processo de Penance — deixou-me muito curiosa para ler e acabei por escolher fazê-lo em audiolivro.

 

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Este segundo livro é uma crítica interessante à cultura do true crime: não apenas os filmes, documentários e podcasts que se criem em torno do tema, mas também toda a cultura de internet, como fóruns e Reddit, que vão ganhando vida própria. Para esta história, Eliza Clark inspirou-se em dois casos de true crime conhecidos para criar aquele que dá vida ao livro: a morte de uma adolescente em Crow-on-Sea, Reino Unido, que foi posta a arder por duas amigas. Já se passou quase uma década desde os acontecimentos e embora vários podcasters e internautas tenham explorado diferentes versões, nunca houve um relato mais extenso e que compreendesse várias das partes envolvidas. Até que o jornalista Alec. Z. Carelli decide fazê-lo e promete publicar uma versão praticamente oficial dos factos — recorrendo a entrevistas com testemunhas, a horas de investigação e, até, a correspondência com as culpadas.

 

Confesso que o universo do true crime de é bastante desconhecido e que não sou, de todo, o género de pessoa que gosta de acompanhar estes casos todos e de ver até as partes mais horrendas. Até sou um bocado avessa a essa curiosidade mórbida e, talvez por isso, tenha gostado bastante da crítica que Eliza Clark faz neste livro. Mais do que ser uma reinterpretação de um caso conhecido, Penance explora todas as narrativas paralelas que se criam quando um destes casos vem a público — e eu achei muito bem conseguido.

 

É um livro muito diferente de Boy Parts, mas tem uma coisa em comum: não podemos confiar no narrador principal. Acho que esta característica de ter sempre um unreliable narrator começa a ser já uma assinatura da autora — e eu não me importo nada, porque adoro. Deixo também uma nota acerca do audiolivro, já que a narrativa é composta por vários formatos — entrevistas, transcrições de podcast, testemunhos, etc. Podem ir à confiança porque o livro é narrado por diferentes pessoas, por isso nunca se vão perder na história.

 

Quem desse lado já leu este ou o Boy Parts?