Quando o assunto é praia, mar ou Verão, lembro-me sempre de um nano-mini-micro conto que escrevi há quase três anos. Nunca o publiquei aqui e acho que hoje se enquadra: 

 

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"Nunca vires as costas ao mar", gritavas-me de todas as vezes que me vias, cheia de coragem nos olhos e determinação nas pernas, a tentar sair da água.

 

Esquecia-me sempre de que não se deve deixar de olhar as ondas até termos os pés bem aterrados na areia. E tu fazias questão de mo dizer, como se nunca o tivesses dito antes e eu não tivesse obrigação de já ter aprendido.

 

"Ao fim de sete ondas vem sempre uma maior", ensinaste-me também. E eu ficava ali a contá-las. Uma, duas, três. Quatro, cinco, seis. Sete. A tua ciência não era exacta – nem sempre era ao fim das sete –, mas a onda grande acabava sempre por chegar e marcava o ciclo, como quem vem só para avisar que a festa acabou.

 

Contava-as, não para te provar errado, mas para confirmar que tinhas razão; que o teu conhecimento das marés era infinitamente mais profundo que o dos pescadores e navegadores. Tinhas a alma salgada e revolta, embora nunca subisses a um barco ou soubesses dar nós. Não pescavas, não amanhavas peixe, nunca te viram nadar, mas trazias o grito das gaivotas na voz.

 

De vida pregada na praia, aprendeste a respirar a maresia com o corpo todo. Sabias de mar e sabias-me a mar, e, para mim, isso sempre bastou.

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Este é o 18º post da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com o P.A. e, quem sabe, convosco também. O tema desta quinzena foi ideia minha, por isso vamos ver o que é que ele nos reserva para a daqui a quinze dias!