Palavras Cruzadas // A minha Turim
Há dias em que gostava de acordar em Turim, na minha Turim. Na cidade que escolhi sem conhecer, que foi mais do que uma casa e do que um refúgio. No sítio que me obrigou a ser um bocadinho mais adulta - que me deu dias de alegria pura e outros tantos de introspecção e auto-conhecimento.
Não é fácil irmos assim, de um momento para o outro, atirarmo-nos aos lobos sem saber bem o que esperar. A solidão é um sítio estranho: parece tão pequenino, tão escuro. E ao mesmo tempo vamos tacteando e percebendo que há ali espaço - nós é que temos de criar um sítio por onde possa entrar luz. Custa ter que criar janelas com as nossas próprias mãos quando nunca nos ensinaram a fazê-lo, mas no fim sabemos que aquela janela é a fonte de luz mais nossa que pode haver.
Acho que o amor aos lugares, aquele que nos faz ganhar raízes, não é uma escolha. Nem sequer é uma grande fatalidade, se querem saber. Cresce devagarinho dentro de nós e, quando nos apercebemos, já cá está e faz-nos ver que estamos no sítio certo para crescer. Não sei se vou conhecer muitos sítios destes, mas sei que há dias em que gostava de estar em Turim. Apesar das dores de crescimento, das saudades e de alguma solidão.
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Este é o 14º post da rubrica Palavras Cruzadas, criada em parceria com o P.A. e, quem sabe, convosco também. O tema desta quinzena foi ideia minha e eu já estou ansiosa por saber qual o próximo mote de escrita.