Pageboy, Elliot Page
Recebi a notícia da publicação de Pageboy com muito entusiasmo — gosto muito de Elliot Page e fiquei contente com a ideia de poder ler um memoir dele, em que a sua transição de género fosse contada na primeira pessoa. Acho que deve ser muito libertador poder tomar conta da narrativa e contar os factos como ele os viveu e sentiu.
Ainda assim, e tendo em conta que leio/oiço bastantes autobiografias e livros de memoir, devo confessar que tive alguma dificuldade em navegar pela história de Elliot Page ou, inclusivamente, em perceber exactamente que história é que ele queria contar. A narrativa não segue uma linha temporal, dá saltos entre coisas que aconteceram quando era muito jovem ou já em adulto pós-transição, o que não teria problema se o fizesse de uma forma mais fácil de acompanhar e de ligar os pontos todos.
É um livro bastante duro, com relatos de várias coisas tristes e graves que aconteceram na vida de Elliot Page — e que ele decide contar da forma mais crua possível, o que eu apreciei bastante, mas admito que possa não ser para toda a gente. Se são sensíveis a uma escrita mais gráfica e visual, talvez seja melhor espreitar os trigger warnings antes.
I don’t want to disappear. I want to exist in my body, with these new possibilities. Possibilities. Perhaps that is one of the main components of life lost to lack of representation. Options erased from the imagination. Narratives indoctrinated that we spend an eternity attempting to break. The unraveling is painful, but it leads you to you.
Acho mesmo que este tipo de livros são muito importantes e que Elliot Page, enquanto celebridade, tem a capacidade de trazer à luz vários temas relacionados com a identidade de género — uma representatividade de que o próprio Elliot diz ter sentido falta enquanto crescia. Porém, e por ter gostado tanto de certas partes de Pageboy, gostava que a escrita me tivesse facilitado o acesso àquilo que o actor queria realmente contar.
Já alguém leu este livro, que está traduzido para português com o mesmo título? Se sim, o que acharam? Se não, está na vossa lista?