Os livros da Rita // Livros que gostava de não ter lido
A chegada da Feira do Livro deu-me para pensar nos livros que gostava de nunca ter lido, só para ter o prazer de os ler novamente pela primeira vez. Depois desta reflexão percebi duas coisas: que já li muitos bons livros na vida e que tenho uma queda para adorar livros mais tristes ou trágicos. E acho que isso acontece porque, quando bem exploradas, a tristeza ou a tragédia podem ser incrivelmente bonitas.
Hoje trago-vos as quatro primeiras obras que me vieram à cabeça quando pensei nos livros que gostava de nunca ter lido. Olhem que o Verão está à porta e é sempre bom estarmos (bem) preparados para as longas horas de leitura na praia.
Alguma vez criaram uma relação de empatia tão grande com uma personagem má, que foram incapazes de odiá-la? Se já vos aconteceu, então conhecem perfeitamente a sensação que tive ao ler este livro. Trata-se de Humbert Humbert, o protagonista deste livro, um homem que desenvolve uma obsessão doentia por uma menina de 12 anos, a Dolores. O tema pode ser chocante, mas acreditem que o livro é muito poético e está incrivelmente bem escrito. Não é uma leitura fácil nem leve, mas foi um dos melhores livros que li na vida, por isso aconselho vivamente.
Este não é um livro sobre um órfão. Nem é um livro sobre o charlatão húngaro que o ensina a voar. É um livro que vai muito para além disto e que tem a melhor citação final de todos os tempos. Desculpem os spoilers, mas cá vai:
Deep down, I don’t believe it takes any special talent for a person to lift himself off the ground and hover in the air. We all have it in us—every man, woman, and child—and with enough hard work and concentration, every human being is capable of…the feat….You must learn to stop being yourself. That’s where it begins, and everything else follows from that. You must let yourself evaporate. Let your muscles go limp, breathe until you feel your soul pouring out of you, and then shut your eyes. That’s how it’s done. The emptiness inside your body grows lighter than the air around you. Little by little, you begin to weigh less than nothing. You shut your eyes; you spread your arms; you let yourself evaporate. And then, little by little, you lift yourself off the ground. Like so."
O Deus das Moscas, William Golding
Incrível como demorei tanto tempo a pegar no O Deus das Moscas. Esteve durante muito tempo na minha must read list, mas entretanto foi sendo ultrapassado por outros. Não me lembro de ter lido assim tantos livros que retratassem tão bem o espírito humano e a sua degradação. Se gostam de histórias que ficam na vossa cabeça durante muito tempo depois de as acabarem, então têm que ler este.
O Amor nos Tempos de Cólera, Gabriel García Márquez
Um dos maiores desgostos que sofri na vida foi ver Gabriel García Márquez morrer e perceber que nunca mais haveria novos livros dele para ler. Aqui me confesso uma incondicional fã do autor - na verdade acho que não há nenhum livro dele de que eu não tenha gostado a sério. Aliás, o Cem Anos de Solidão foi até o que menos gostei, embora seja a sua obra mais conhecida. Mas O Amor nos Tempos de Cólera é um dos livros mais bonitos que alguma vez li. E retrata a história de um verdadeiro amor de uma vida de forma magistral. Se nunca leram, façam um favor a vocês próprios e vão a correr ler.
Já leram algum destes livros? Gostaram? E que livros gostariam de ter o prazer de ler pela primeira vez novamente?