Os livros da Rita // Eliete, Dulce Maria Cardoso
Eu já sei o que estão a pensar: leram “Dulce Maria Cardoso” no título e têm a certeza de que me vou desfazer em elogios. Estão errados? Não, não estão. O tema deste mês d’Uma Dúzia de Livros é um livro português e eu vi isso como uma desculpa para ler finalmente Eliete, o livro mais recente da autora. Foi uma das minhas compras na Feira do Livro do ano passado e ainda não tinha tido tempo para lhe pegar.
Eliete conta a história de uma mulher com esse nome, que chegou agora à meia-idade e se depara com aquilo a que podemos chamar de “vida normal”. Aliás, é mesmo esse o subtítulo do livro - “a vida normal”. O pai de Eliete morreu cedo e essa é uma sombra que paira sempre na narrativa, já que é uma das coisas que define aquilo que a personagem é. Mas não só essa relação: também a relação atribulada com a mãe, o sentimento de dívida que tem para com a avó paterna que adoece, o relacionamento insípido que tem com o marido e uma barreira invisível que não consegue ultrapassar relativamente às duas filhas.
Na meia-idade, o tempo das escolhas já tinha passado, escolher pertencia à adolescência, ao início da idade adulta, ia para ciências ou humanidades?, experimentava drogas?, fazia ou não a vontade da pila do Marco? Aceitava um emprego de merda ou esperava por aquele que merecia?, ia viver ou não com o Jorge?, deixava ou não de tomar a pílula?, a adrenalina da escolha, a angústia da tomada de decisão pertenciam a um passado remoto. Agora já nada havia para escolher, nem para decidir, a vida estava embalada, não era fácil travá-la, não era fácil desembrulhá-la.
Dulce Maria Cardoso fala-nos da meia-idade que se vive nos dias de hoje, com o Facebook e o Tinder como ferramenta para lidar com eventuais frustrações amorosas, por exemplo. Ainda não tinha lido um livro dela que falasse directamente dos dias de hoje e que capturasse tão bem a essência do que é envelhecer nesta era da tecnologia. E mesmo que eu ainda não esteja nesta altura da minha vida, consegui relacionar-me muito com o livro porque conheço pessoas próximas que viveram momentos muito semelhantes aos que Eliete vive neste livro.
Pelo que sei, é apenas o primeiro volume da história de Eliete - até porque o final nos deixa com uma descoberta estranha (e incrível ao mesmo tempo) e sei que quem leu vai precisar muito de ter mais desenvolvimentos neste enredo. E eu fico feliz porque sei que Dulce Maria Cardoso estará algures a escrever um livro maravilhoso - como sempre.
Impressões sobre Eliete, quem tem? Quero saber o que acharam!
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Eliete by Dulce Maria Cardoso
Avaliação: 8,5/10