O Osso da Borboleta, Rui Cardoso Martins
Quando penso em autores portugueses, Rui Cardoso Martins não é dos primeiros que me vem à cabeça, mas depois lembro-me que todas as experiências que tive com obras dele foram muito boas. O Osso da Borboleta não foi excepção e, apesar de achar que é um livro sobre várias coisas e sobre nada em concreto, não posso deixar de o recomendar.
Lembro-me perfeitamente como é que me veio parar à mão: de vez em quando, a Tinta-da-China faz umas promoções que eu adoro, em que põem em desconto todos os livros com a capa de uma determinada cor. Este foi um dos que comprei aquando da promoção de livros de capa azul – e depois de, recentemente, estar a ler tantos livros em inglês, apetecia-me um autor português e relembrei-me deste livrinho, parado há tanto tempo.
O Osso da Borboleta é, mais do que qualquer outra coisa, um retrato fiel do que é uma “cidadezinha atlântica portuguesa”, com todas relações entre as pessoas que a compõem. Tem sempre presente a ideia de desgraça iminente, do fado cruel que nos é tão característico; é que, se algo puder correr mal, claro que vai correr. Mas mesmo quando tudo acontece, encontramos sempre forma de sobrevivermos e reerguermos.
Podia aqui falar-vos do protagonista sem nome, que mora num sótão onde nem a polícia o encontra, ou falar-vos de Purificação, que foi bela em tempos e agora é só amargurada. Podia explicar-vos a narrativa, mas a beleza deste livro está nos detalhes que compõem estas e outras personagens, na forma como se ligam.
Se gostam de livros que são reflexos do que é viver e da vida de bairro, mas, acima de tudo, que são sobre o que faz de nós humanos, então este deve ir para a vossa lista imediatamente. Do mesmo autor também li Deixem Passar o Homem Invisível, de que gostei ainda mais, e vi recentemente a peça Última Hora no Teatro Dona Maria II, escrita por ele (se gostarem de ler peças podem encontrar à venda na Tinta-da-China). Há por aí fãs de Rui Cardoso Martins que me possam recomendar o próximo livro dele que devo ler?