O Grito da Gaivota, Emmanuelle Laborit
Não sei se já falei disso por aqui, mas desde Outubro de 2022 que eu e o Guilherme andamos a ter aulas de Língua Gestual Portuguesa. Todos os sábados, as nossas manhãs são dedicadas a aprender uma língua que é, também, uma forma de nos tornarmos pessoas um pouco mais inclusivas no nosso dia-a-dia. Por consequência disso, tenho estado bastante mais atenta à comunidade surda: as suas experiências, dificuldades, desafios.
Quando uma colega minha (olá, Paula! 🙋♀️) me falou no livro O Grito da Gaivota, de Emmanuelle Laborit, soube logo que quereria lê-lo e fiquei muito feliz quando ela mo emprestou. Li-o de uma assentada, não só por querer mesmo muito ler algo escrito da perspectiva de uma pessoa surda, mas também porque foi um empréstimo e gosto de devolver livros rapidamente.
Emmanuelle Laborit é surda profunda e explora, neste livro, como é crescer no seio de uma família ouvinte e — mais do que isso — como é crescer numa época em que a Língua Gestual Francesa era, de certo modo, proibida. Desconhecia por completo toda esta luta que a comunidade surda teve para afirmar a língua gestual, bem como a forma como, antigamente, se tentava formatar as pessoas surdas para serem o mais parecidas possível com quem ouve.
Gostei sobretudo de perceber como é que uma pessoa surda percepciona o mundo e os conceitos que, para quem ouve, são quase básicos. Dando apenas um exemplo: Emmanuelle conta que só conseguiu compreender realmente as ideias de “ontem” e “amanhã” quando percebeu que “ontem” é o que está atrás de nós e “amanhã” é o que está à nossa frente. É o tipo de coisas que eu ainda não consigo saber através das pessoas surdas que conheço, visto que estou num nível muito inicial da língua.
Nota-se que o livro poderia ter uma edição um pouco mais cirúrgica, mas cumpre perfeitamente o propósito de nos fazer ver o mundo de uma forma diferente, de nos ajudar a compreender quem não ouve. Por isso, só posso mesmo recomendar que o leiam — prometo que vos fará entender melhor a surdez e a comunidade surda.
Ficaram com vontade de o ler?