Não Fossem as Sílabas do Sábado, Mariana Salomão Carrara
Ainda têm paciência para ler sobre livros que li no ano passado? Espero que sim, que ainda tenho várias reviews de leituras de 2024 por publicar. Não Fossem as Sílabas do Sábado, de Mariana Salomão Carrara, foi uma das leituras que consegui encaixar ali por alturas do Natal e Ano Novo, visto ser um livro bastante curto. O que eu não esperava era que, apesar do seu tamanho, fosse tão poderoso.
A história tem início no auge da desgraça: Ana, a nossa protagonista, perde o marido num acidente trágico e inesperado, precisamente no sábado em que ia contar-lhe que estava grávida. Nesse dia, conhece Madalena, uma mulher cujo destino se cruza com o seu precisamente por estar envolvido no mesmo acidente. Enquanto Ana tem de lidar com o luto e com a chegada de uma filha, Madalena começa a aproximar-se dela — são duas mulheres a passar pelo mesmo, mas em pontos muito diferentes da situação.
Mas é importante para as tragédias que elas sejam descobertas imediatamente, porque cada segundo que elas passam ocultas vira um ano a mais de luto, isso é um capricho que as desgraças têm.
Para mim, os dois pontos mais fortes de Não Fossem as Sílabas do Sábado são, sem dúvida, a premissa e a escrita. Embora não tenha adorado a opção de a narrativa não ser linear, consigo compreender que, num processo de luto, seja assim que as coisas soem — memórias fora do sítio, desordenadas, que aparecem e desaparecem sem que as consigamos controlar. Esta não é uma história normal sobre amizade feminina; é, sim, sobre uma relação mais trágica, de duas mulheres unidas (e separadas) pela sobrevivência.
Gostei mesmo muito desta minha primeira experiência com a escrita de Mariana Salomão Carrara, que consegue ser direta quando é necessário e lírica em momentos-chave. Fico com muita vontade de ler mais coisas dela, como Se deus me chamar não vou e É sempre a hora da nossa morte amém. Que outros me recomendariam?