Moby Dick, Herman Melville
De há uns tempos para cá, tenho feito um esforço por ler mais livros que já estejam cá em casa há muito tempo. Como não resisto a joguinhos, criei um «pote dos papéis», com os títulos de todos os livros que ainda não li, mas já estão arrumados nas estantes, e todos os meses vejo o que me calha para ler. Admito que receava o dia em que Moby Dick, de Herman Melville, me calhasse na sorte; no entanto, posso desde já dizer que o desafio de o ler foi superado com sucesso.
Como acontece com vários clássicos que já fazem parte da nossa cultura, mesmo que não os tenhamos lido, tinha várias ideias — algumas erradas, outras certas — sobre este livro. Começo pela primeira coisa em que estava errada: embora Capitão Ahab seja uma personagem importantíssima desta história, é Ishmael, um homem que se junta ao navio Pequod, que nos guia ao longo desta narrativa. Ao longo de várias páginas, vamos acompanhando os tripulantes desta embarcação, que vão em busca de Moby Dick, o temível cachalote branco que arrancou a perna ao capitão e do qual este quer vingança.
Não estava preparada para tantos capítulos em que deixamos de acompanhar estes homens e passamos a falar apenas de baleias — sobre a taxonomia, a anatomia, os hábitos —, mas compreendo que sejam partes necessárias para ajudar a construir a obsessão destes homens, mais especificamente de Ahab, em relação a este animal. Porque é disso que Moby Dick se trata: de uma história de obsessão e de vingança, muitas vezes contra fenómenos sobre os quais temos pouquíssimo controlo, e mostra até onde somos capazes de ir para sentirmos que nos vingámos.
A minha experiência de leitura teve altos e baixos: fui várias vezes surpreendida pela positiva pelo humor das personagens e ritmo do livro, nomeadamente nos momentos em que acompanhamos o que se passa no Pequod, mas também penei em algumas partes, sobretudo aquelas em que saímos da narrativa e o autor nos dá várias «aulas» sobre baleias. Não é, de todo, um livro fácil de ler, mas compreendo porque é que sobreviveu tão bem à erosão do tempo, e espanta-me que não seja mais vezes recomendado quando falamos de livros sobre obsessão e vingança.
Para quem tiver vontade de o ler, força! É uma empreitada, nem sempre prazerosa, mas no final vão sentir que cumpriram a missão — tal e qual os nossos aventureiros do Pequod. Quem desse lado já leu este livro? O que acharam?