Mezze: um restaurante sírio muito especial
As Mezze são, nada mais nada menos, do que pratos para partilhar. O equivalente aos nossos petiscos ou às tapas espanholas nos países de Leste, Balcãs partes da Ásia Central. Mas “Mezze” é também o nome do primeiro restaurante sírio de Lisboa, criado com um propósito muito maior do que apenas fazer negócio.
No dia em que fui conhecer este sítio, no Mercado de Arroios, um amigo teve que ir guardar lugar na fila que se começa a formar pouco antes das 19h, a hora de abertura. O Mezze não faz reservas, mas se forem por volta deste hora conseguem safar-se bem. À primeira vista, é um restaurante como qualquer outro ali daquele edifício: o balcão e a cozinha ocupam o lado direito da sala e, bem no centro, fica uma mesa comprida com espaço para um grupo grande ou para vários grupos mais pequenos.
Aquilo que o torna tão diferente é o facto de lá trabalharem dez refugiados sírios, que com a ajuda da associação Pão a Pão têm agora uma vida um pouco mais normal. Com a simples abertura de um restaurante tentaram começar a resolver um problema maior do que a necessidade de acolhimento dos refugiados - a sua reintegração.
E, deixem-me que vos diga, todas as pessoas que nos atenderam nessa noite já têm um português perfeitamente compreensível e mostram uma disponibilidade gigante para nos explicar os pratos e o funcionamento da carta. É incrível ver a força que o ser humano tem quando, depois de passar por períodos negros e de provação, consegue ter a oportunidade de se agarrar novamente à vida.
O que mais nos prende no menu, para além das opções deliciosas, é o relato desta história e de como é possível fazermos coisas boas uns pelos outros. Depois de a lermos e relermos, decidimos finalmente começar a pensar no que comer. A carta está dividida em seis menus pré-definidos e em pratos a la carte, mas como queríamos provar um pouco de tudo cada um escolheu um menu. Antes de me decidir, pedi um Sumo de Tamarindo, que acompanhou a refeição durante toda a noite.
Optei pelo Menu 2, vegetariano, que trazia Tabbouleh (salada de salsa picada, bulgur, tomate, cebola e hortelã), Baba Ganoush (puré de beringela assada com tahini, xarope de romã e especiarias), Hummus (pasta de grão com tahini e creme de sésamo), Moussaka (beringelas no forno com tomate e especiarias) e Khubz (pão sírio). Estava tudo tão bem feito, tão delicioso, que tive de pedir outro Khubz para acabar de limpar os pratos todos. Adoro Baba Ganoush e nunca tinha provado um assim, com pedaços grandes de beringela e romã.
Para a mesa, escolhas de outros menus, vieram também outros pratos: Fatoush (salada mista com pão árabe estalado), Meshawi (espetadas de borrego com molho de iogurte e outras de frango), Kebseh (arroz fumado com pimentos), Kibbeh (bolinhos fritos de carne de vaca, bulgur e especiarias) e Shorbet Adas (sopa de lentilhas).
Não podíamos ir embora sem provar o lado mais doce da cozinha do médio oriente, com uma Baklava de Pistáchio que apesar de muito doce estava mesmo muito boa.
A conta não ficou muito barata, mas também não nos poupámos em pedir vinho e mais pão sempre que necessário. Ainda assim, sabem aquelas contas que não custam nada pagar, porque sabemos que o dinheiro servirá para fazer bem? Foi essa a sensação com que saí do Mezze e o objectivo com que voltarei a entrar sempre que me apetecer comer boa comida num ambiente caseiro.