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Rita da Nova

Ter | 21.12.21

Memorial, Bryan Washington

Continuamos na senda dos livros que comprei em Edimburgo e decidi ler antes de qualquer outro que tinha na pilha de livros para ler há meses. Quando comprei o Memorial, de Bryan Washington, a livreira da Topping and Company olhou para mim com um ar muito entusiasmado e perguntou-me se era para mim, porque ela tinha lido e achou incrível.

 

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Não estava a mentir: acho que foi directamente para o top das minhas leituras favoritas do ano, devido à combinação de escrita quase perfeita e de enredo — calma, não é uma história cheia de acontecimentos e twists, é sim a história de uma relação que se calhar não tem futuro e vocês já sabem que eu fico logo conquistada.

 

Mike e Benson namoram há alguns anos; na realidade, "foram começando" a namorar até que deram por si a morar juntos. Quando o livro começa, Mike está de partida para Osaka para acompanhar o pai nas últimas semanas de vida. Só que a sua mãe, Mitsuko, chega aos Estados Unidos para estar com ele. Ou seja: Mike parte na mesma para o Japão e a mãe acaba por ficar a partilhar casa com Benson, o namorado do filho — e ao início nem entendemos bem se ela concorda com esta relação homossexual ou se só não vai mesmo com a cara de Ben.

 

That loving a person means letting them change when they need to. And letting them go when they need to. And that doesn’t make them any less of a home. Just maybe not one for you. Or only for a season or two. But that doesn’t diminish the love. It just changes forms.

 

O livro está dividido em três partes: a primeira é narrada por Benson, a segunda por Mike e a terceira novamente por Benson. Consegui criar uma ligação maior com os testemunhos do Ben — acho que é porque o autor também é afro-americano como a personagem, por isso talvez tenha sido mais natural transpor algumas das dificuldades por que Ben vai passando. De qualquer das formas, gostei muito desta ideia de irmos percebendo a perspectiva de cada um sobre o final iminente desta relação — porque às vezes, na maior parte das vezes até, as relações não acabam por algum motivo grande, mas sim por várias coisas aparentemente insignificantes ou devido a falhas de comunicação aparentemente inócuas.

 

Uma nota muito especial para Mitsuko, que me fez lembrar muito a minha avó e é, provavelmente, a personagem mais bem construída do livro. Mais para o final do livro senti que ela fazia um bocadinho o papel do leitor na narrativa, dando a perspectiva de quem está de fora daquela relação. Se gostam deste tipo de histórias, acho mesmo que deviam agarrar-se a este livro.