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Rita da Nova

Sex | 31.05.24

Luanda, Lisboa, Paraíso, Djaimilia Pereira de Almeida

Cheguei finalmente a uma das minhas compras da Feira do Livro de 2023, mesmo a tempo de libertar espaço nas estantes para mais uma edição. Luanda, Lisboa, Paraíso, de Djaimilia Pereira de Almeida, é um livro que tenho debaixo de olho já desde que dinamizava o Uma Dúzia de Livros — há por aqui alguém dessa altura? —, uma vez que foi muito bem referenciado num dos nossos encontros. Ainda assim, depois de uma experiência estranha com A Visão das Plantas, da mesma autora, decidi dar um tempo até ler esta história.

 

luanda-lisboa-paraiso-djaimilia-pereira-almeida.JP

 

Ainda bem que o fiz: Luanda, Lisboa, Paraíso é muito mais o meu tipo de livro e de narrativa. Cartola e Aquiles, pai e filho, chegam a Lisboa em junta médica e deixam as mulheres da família para trás, em Luanda. Sozinhos, têm de descobrir (ou será criar?) as bases da sua relação — por vezes, Aquiles tem se ser pai sem ter tido a oportunidade de ser filho. Quando percebem que Lisboa pode não ser a materialização do sonho de Cartola, encontram o Paraíso à margem da cidade e é lá que fazem um amigo.

 

Adorei toda a construção da dinâmica entre as várias personagens, sobretudo as masculinas, porque é feita com uma sensibilidade extrema. Creio que essa seja a magia do livro, já que a narrativa não segue linhas muito complexas — ao invés disso, acompanha o dia a dia e as mudanças (tanto exteriores como interiores) destas pessoas que mudaram de país. Também gostei muito da forma como Aquiles e Cartola vão mantendo contacto com a família, seja através de cartas, de telefonemas ou de visitas de algumas personagens a Lisboa, porque isso ajuda o leitor a fazer uma comparação entre as suas versões de Luanda, de Lisboa e de paraíso.

 

Passaram a esquecer-se dela nas conversas como se a matriarca nunca tivesse feito parte. Uma pessoa podia ser esquecida depressa depois de ter sido o esteio de tantas outras.

 

Este livro fez-me companhia numa viagem de autocarro entre Lisboa e Faro, pelo que podem perceber a voracidade com que o li. Estive sempre dividida entre a vontade de saber mais sobre estas personagens e demorar-me a ler várias passagens, já que a escrita de Djaimilia quase que nos exige isso. À primeira vista é simples e direta, mas rapidamente compreendemos que tem muitas camadas prontas a serem descobertas.

 

Se procuram uma leitura em língua portuguesa, acho que não poderia recomendar mais este livro. E desse lado, que outras histórias de Djaimilia Pereira de Almeida me recomendariam?

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