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Rita da Nova

Ter | 25.02.25

Limpa, Alia Trabucco Zerán

Vou ganhar um pouco de vergonha na cara e escusar-me de dizer há quanto tempo tinha este livro cá em casa. Sabia que, se não me «obrigasse» a incluí-lo na lista de livros para ler, continuaria durante muito mais tempo a ganhar pó. Foi por isso que o escolhi para leitura de fevereiro no Clube do Livra-te — e fiquei surpreendida por ver que tantas pessoas tinham, como eu, este livro pendente.

 

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Em Limpa, Alia Trabucco Zerán dá a conhecer Estela García, que encontra trabalho na cidade, na casa de uma família rica, como criada de quarto e ama de Julia, a filha recém-nascida do casal. Ao longo dos anos, Estela acompanha esta menina, vê-a crescer, ajuda na sua educação, está com ela durante mais tempo do que os próprios pais. Mas isto é algo que só vamos percebendo com a leitura, já que, na verdade, o livro começa com Estela a afirmar que Julia morreu. Página a página, vamos entrando cada vez mais na dinâmica e rotina desta família, e nas minudências do trabalho doméstico e invisível que Estela, como tantas outras pessoas, fazia.

 

Passada alguma estranheza inicial com a escrita — o livro é todo narrado na primeira pessoa e Estela dirige-se constantemente a alguém cuja identidade desconhecemos —, entrei completamente nos pensamentos desta protagonista. Rapidamente compreendi que não é uma narradora confiável, e acho que isso vai ficando presente ao longo do livro. As dinâmicas entre personagens estão muitíssimo bem exploradas, e é através delas que vamos tendo uma noção da luta de classes e preconceitos sociais, que estão presentes em toda a história.

 

Nessa noite não consegui dormir, como em tantas outras noites. Pensava na criança, nas suas unhas, no crescimento repentino daquele gesto, nas suas mãos roliças e preguiçosas, sempre disponíveis para serem levadas à boca, para serem destruídas pelos dentes. Eu nunca roi as unhas, nem a minha mãe. Para isso, acho eu, é preciso ter as mãos desocupadas.

 

Embora a experiência de leitura tenha sido algo desconfortável para mim, acredito que esse fosse o objetivo da autora. Adorei todas as reflexões que esta leitura conjunta espoletou no Discord do Livra-te, sinto que enriqueceram muito a minha perceção geral do livro. Quanto mais penso nele, mais gosto e mais entendo a necessidade de ser escrito como foi. Agora quero muito ler A Subtração, da mesma autora, também editado cá em Portugal — e prometo que não vou demorar tanto tempo!

 

Contem-me tudo: como foi a vossa experiência com este livro?

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!