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Rita da Nova

Qui | 24.10.24

Intermezzo, Sally Rooney

Já se passaram semanas desde que terminei o mais recente romance de Sally Rooney, Intermezzo, e andei a adiar a escrita desta publicação porque ainda não sei bem o que achei sobre esta leitura. Não é novidade para ninguém que Rooney é uma das minhas autoras favoritas, pelo que estava entusiasmadíssima com a possibilidade de ler mais um livro dela. Às primeiras páginas, contudo, soube que estava perante uma história e uma escrita muito diferentes daquilo a que nos habituou — e isso causou uma sensação de estranheza que ainda não me abandonou totalmente.

 

intermezzo-sally-rooney

 

Começando pelo fim, uma coisa é certa: tenho gostado mais de Intermezzo à medida que o tempo passa. Tem sido como um vinho que não é imediatamente prazeroso, mas cujo sabor vai ficando na boca e aprendemos a apreciar melhor. Diria que essa foi a principal diferença nesta experiência de leitura: eu, que sempre tive facilidade em entrar nas histórias de Sally Rooney, encontrei-me com alguns obstáculos e algumas pedrinhas na engrenagem, que foram causando alguns soluços na leitura. Não foi, de todo, uma leitura fluida e sôfrega como costuma ser, mas tenho-me vindo a aperceber de que isso pode ter sido uma coisa boa.

 

Intermezzo conta a história de dois irmãos, Peter (32) e Ivan (22), nos tempos imediatamente a seguir à morte do pai. Peter é advogado bem-sucedido, que batalha com a dificuldade de gerir as relações amorosas que tem com duas mulheres bastante diferentes; Ivan joga xadrez de competição e é o oposto do irmão em quase tudo. O livro narra, no fundo, este intermezzo, este período de intervalo e de luto nas vidas dos dois irmãos e das pessoas que gravitam à volta deles. Como sempre nos livros da autora, adorei as interações entre personagens, a dimensão humana que consegue representar nos diálogos, sim, mas sobretudo no que não é dito.

 

Sometimes you need people to be perfect and they can’t be and you hate them forever for not being even though it isn’t their fault and it’s not yours either. You just needed something they didn’t have in them to give you.

 

Neste interregno, os dois irmãos exploram facetas das suas vidas que ainda não tinham tido protagonismo. Fala-se de temas muito atuais neste livro — por exemplo, relações não-monogâmicas, saúde mental, sobre celibato involuntário —, mas houve uns quantos momentos em que gostaria que alguns aspetos fossem explorados ou tratados com um pouco mais de cuidado, nomeadamente toda a história de fundo entre Peter e Sylvia, e as consequências físicas e mentais do acidente que ela sofreu. Nesse sentido, apesar de ter gostado que Rooney escolhesse dois protagonistas masculinos, nem sempre senti que os conseguisse desenvolver da forma mais justa ou que nos fizesse empatizar com eles nos momentos certos.

 

Uma última nota sobre a escrita: foi aqui que notei a maior diferença. Se terminei os livros anteriores da autora com a sensação de que não havia uma palavra a mais, aqui já não posso dizer a mesma coisa. Em vários momentos achei que exagerou a escrita, que a tornou demasiado complicada onde não tinha de ser e que simplificou onde poderia ter procurado mais profundidade. Senti-o sobretudo nos capítulos do ponto de vista do Peter e de forma geral na segunda parte do livro, onde notei uma certa redundância de ideias — acredito que para dar a sensação de repetição de padrões de pensamento, mas não era preciso tanto.

 

Isto para dizer o quê? Que gostei muito do livro, que vou gostando cada vez mais à medida em que falo ou penso sobre ele, mas que a leitura não me arrebatou como eu achava que iria acontecer. Estou muito curiosa com a vossa opinião, também! Se já leram, o que acharam?

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