Infame: a história de um namoro à janela
Reza a história que em Fevereiro de 1908, após o assassinato do seu marido e filho, a Rainha D. Amélia terá tentado agredir os regicidas com um ramo de flores, gritado “infames, infames”. Também reza a história - embora uma história bem mais recente - que o Intendente sempre foi propício a infâmias um pouco diferentes, uma reputação que está, aos poucos, a abandonar a zona.
A renovação do bairro deve-se, em parte, a espaços como o Infame - que ganhou nome pelas duas histórias de que vos falei. Situado no novo Hotel 1908 (esta data diz-vos alguma coisa?), o espaço apaixona-nos ainda antes de entrarmos, já que as janelas largas deste edifício de esquina nos deixam espreitar completamente lá para dentro. Tive, de facto, longo namoro à janela com este restaurante durante meses, até chegar a oportunidade de o visitar pela primeira vez.
Assim que me sentei para jantar, não quis poupar-me àquele primeiro encontro. E como não conseguimos escolher apenas duas entradas para partilhar, optámos pelo Trio Admira - traz Pica-pau com molho de mostarda antiga e pickles, Tártaro de salmão com cebolinho, algas e maionese de yuzu e Queijo amanteigado com broa de milho. Gostei dos três petiscos, mas, senhores, foi impossível resistir ao molho do pica-pau (tanto que não sobrou nem um bocadinho).
A cozinha do Infame é, como a zona que escolheu para morar, uma mistura gigante de influências, cheiros e sabores. Ainda assim, tudo nos é familiar, por isso não estranhamos as combinações de ingredientes e de texturas. Dividimos dois pratos que me ficaram logo debaixo de olho: o Paul 2.0 (polvo ao vapor com azeite de alecrim, couve bok choy grelhada, batata-doce assada e crocante de massa de arroz com paprika) e o Flash Tuna (atum com crosta de sésamo e citrinos, salada coleslaw asiática, quinoa e amaranto com abacate e beterraba). Ambos estavam muito bons, mas o atum foi o meu favorito por ser leve, fresco, mas com sabor muito rico de inspiração asiática.
A noite estava a correr tão bem - era sexta-feira e o fim-de-semana adivinhava-se preguiçoso -, que não quis deixar o Infame sem saborear algo mais doce. E, mais uma vez, a indecisão levou-nos a partilhar duas sobremesas, muito semelhantes na apresentação mas opostos no sabor. O Bolo da Má Vida é a estrela da casa e é feito com tâmaras e vem acompanhado com gelado de canela, caramelo e calda de tâmaras - era doce, mas de uma maneira que só as tâmaras conseguem ser. Já a Bomba de Chocolate era intensa, com diferentes texturas de chocolate, trazia gelado de chocolate branco, pimenta-rosa e petazetas de chocolate a complementar.
Saí do Infame com a sensação de que ficou muita coisa por provar e ainda bem. Tenho a certeza que vou regressar e, quem sabe, começar pela Pasta Valmor, pelo Duck Pond ou até pelo brunch que ali é servido aos fins-de-semana e existe em versão vegetariana. Seja como for, o que interessa ali é atirarmo-nos à comida sem vergonha, como se não houvesse amanhã - afinal, lembrem-se que naquele bairro já se passaram infâmias bem piores.
Já tinham ouvido falar do Infame ou já tinham experimentado? Partilhem as vossas impressões comigo, ali nos comentários.