In the Dream House, Carmen Maria Machado
Já contei a história de como este livro veio parar cá a casa, mas nunca me vou cansar porque foi das compras mais amorosas de sempre. Nesta nossa última ida a Edimburgo, conheci finalmente a livraria Typewronger (sobre a qual falei em mais detalhe num post sobre as livrarias da cidade).
Embora a livraria não tivesse muitos livros, bati logo o olho em In the Dream House, de Carmen Maria Machado, uma autora que já queria conhecer há algum tempo. O livreiro foi a coisa mais amorosa do mundo, carimbou-me o livro com uma imagem da livraria e ofereceu-me um origami de um elefante, um slightly drunk elephant, que agora tenho na minha secretária de trabalho. Tendo em conta este momento tão querido, estava até com algum medo que o livro não correspondesse às minhas expectativas. Eu sabia que era um livro de memórias, não-ficção, e que poderia não ser bem aquilo que eu achava que era.
Em conclusão: foi o que eu estava à espera e não foi. Ou seja, eu esperava algo sobre relações queer, bem como sobre a forma como a violência nasce e é percebida nas relações LGBTQ+, mas não estava à espera que fosse escrito de uma forma tão arrebatadora. É bem mais duro do que eu estava à espera, embora nunca seja propriamente muito explícito porque a violência de que Carme Maria Machado foi alvo era essencialmente psicológica.
A reminder to remember: just because the sharpness of the sadness has faded does not mean that it was not, once, terrible. It means only that time and space, creatures of infinite girth and tenderness, have stepped between the two of you, and they are keeping you safe as they were once unable to.
A autora compara o seu corpo e o seu coração a uma “Dream House”, e vamos entendendo como é que esta casa vai sendo invadida pela mulher que, aos poucos, começa a tratá-la mal. Não tendo lido mais nada dela e, portanto, não sabendo se é um mecanismo recorrente na sua escrita, gostei que todos os textos remetessem sempre a clichés que nós encontramos nos contos de fadas. Apesar de se uma narrativa bastante actual, tanto nos temas como na escrita, é interessante haver sempre esta camada de folclore muito subtil.
Sei que este livro não está traduzido para português, mas o outro livro dela, Her Body and Other Parties, já está traduzido pela Alfaguara como O Corpo Dela e Outras Partes, caso queiram dar-lhe uma oportunidade.