How to Kill Your Family, Bella Mackie
Preparem-se, porque eu hoje venho com tudo. Em primeiro lugar quero pedir desculpa a todas as pessoas que leram How to Kill Your Family, de Bella Mackie, influenciadas pela minha escolha de Agosto para o Clube do Livra-te. Quero que saibam que fui enganada pelo título engraçado, a capa bonita e o ponto de partida promissor.
A premissa é, de facto, muito interessante: depois da morte da mãe, Grace dedica anos a pensar em como poderá vingar-se da família paterna. O pai é um milionário adúltero e, assim como os avós, tios e primos, nunca quis saber desta filha bastarda — nem quando a mãe de Grace morre e ela fica completamente sozinha. E, ainda assim, Grace acaba presa por um crime que não cometeu. Até aqui tudo bem, o pior é quando a história se começa a desenvolver.
Por favor, se não leram o livro, não leiam mais a partir daqui porque vou falar com ⚠️ SPOILERS ⚠️. Ora bem: Grace decide matar a família de maneira a deixar o pai para o fim — começa pelos avós, passa para um primo, depois o tio, depois a madrasta, depois a irmã e só então o pai. Mas, apesar de passar o tempo todo a dizer que este era o plano da vida dela, de todas as vezes acontece sempre qualquer coisa que lhe facilita muitíssimo a vida. De repente, uma coisa tão meticulosa passa simplesmente a: olha, descobri que a minha irmã é alérgica a pêssegos e vou espetar-lhe um creme com essência de pêssego na fuça ou quero matar os meus avós e um engatatão empresta-me o carro dele, que útil.
Não há conflito em momento algum. Sim, ela vai presa por um crime que não cometeu, mas sai da prisão mais depressa do que eu no Monopólio. E tudo para descobrir que um irmão até então inexistente, também ele bastardo, andou atrás dela o tempo todo e acaba por ser ele a ficar com os louros por matar o pai. Acho que a Bella Mackie faltou a aula de Feminismo 101 — como assim, escreve um livro com uma premissa óptima, com uma anti-heroína perfeita, para depois deixar que seja um homem (of all creatures!) a vir atrás e a passar um paninho em tudo.
E vocês perguntam: Rita, mas a escrita ao menos era boa? Olhem, era e não era. Tinha algumas piadas boas, mas às tantas eram umas em cima das outras, sem espaço para respirar. Tinha muito potencial, com aquele humor britânico que eu aprecio, mas está claramente mal editado. Se há uma aula a que a Bella Mackie não faltou foi àquela em que explicavam como escrever uma composição com mais de 200 palavras sem ter bem o que dizer — reconheço a mestria, mas às tantas era tanta palha e está tão mal editado, que me perdi várias vezes e tive vontade de adormecer (sim, até nas cenas da festa de sexo, que era suposto terem o efeito oposto).
Portanto, olhem: não percam o vosso tempo, vão antes almoçar à beira-rio, que saem mais bem servidos. Ah: está traduzido para português, mas como isso não resolve o original, não vale a pena gastarem dinheiro numa edição que, ainda por cima, vai ser mais cara.
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