Hamnet, Maggie O’Farrell
Demorei muito tempo a ler este livro e foi propositado — depois de ter ouvido tanta gente falar bem dele, sobretudo pessoas em cuja opinião confio bastante, sabia que estava destinada à desilusão se fosse ler imediatamente. Deixei passar algum tempo até me agarrar às páginas de Hamnet e, mesmo já tendo terminado há umas semanas, ainda não tenho uma opinião fechada.
Para quem não sabe, Hamnet centra-se num dos filhos de Shakespeare, que morreu com onze anos. Mas mais do que contar a história da morte do rapaz ou a história de Shakespeare (que, já agora, nunca é referido através do nome), Maggie O’Farrell prefere dar-nos a prespectiva do processo de luto da mãe e das irmãs de Hamnet. É claro que, quatro anos depois da morte do filho, o dramaturgo escreve uma peça chamada Hamlet — a sua forma de lidar com a perda —, mas essa já é sobejamente conhecida e a autora quis revelar-nos as histórias que normalmente não são contadas.
Não tenho nada a apontar à construção de personagens ou ao ponto-de-vista escolhido; acho até que é bastante original e fresca, fez-me lembrar alguns retellings de mitologia de que gosto tanto. O meu maior problema com este livro é uma das coisas de que as pessoas mais parecem gostar: a escrita. Senti algumas vezes que Maggie O’Farrell punha as coisas de forma complicada e que, por isso, se notava o esforço de escrever de maneira lírica — quando, na realidade, poderia ter simplificado sem perder beleza.
What is given may be taken away, at any time. Cruelty and devastation wait for you around corners, inside coffers, behind doors: they can leap out at you at any time, like a thief or brigand. The trick is never to let down your guard. Never think you are safe. Never take for granted that your children's hearts beat, that they sup milk, that they draw breath, that they walk and speak and smile and argue and play. Never for a moment forget they may be gone, snatched from you, in the blink of an eye, borne away from you like thistledown.
Outro ponto que me afastou um pouco da história foi o head hopping constante entre personagens. Estamos sempre a saltar de perspectiva em perspectiva, às vezes até a meio de uma frase ou de um parágrafo. Foi outro mecanismo de escrita que achei desnecessário, uma vez que poderia ter sido feito de uma maneira mais simples sem perder o efeito desejado.
Obviamente que tem reflexões muito bonitas sobre a perda e o luto, a autora consegue fazer-nos empatizar com todos os membros da família, que sofrem com a morte de Hamnet, mesmo que não se consigam expressar claramente. Só gostava de ter conseguido aproveitar um bocadinho melhor as ideias da autora, sem me sentir constantemente cansada com a forma como estão escritas. Fico com vontade de ler mais coisas dela, para tentar perceber se este estilo foi propositado, para dar um ambiente shakespeariano à história, ou se é mesmo assim que escreve.
Já leram Hamnet? O que acharam? E que outros livros da autora me recomendariam?