Girl Meets Boy, Ali Smith
Ali Smith está a tornar-se uma das minhas autoras de eleição, mas sei que nem sempre é fácil de gostar e, pela natureza dos livros dela, também nem sempre é fácil de explicar os enredos ou porque é que os considero tão interessantes. Vou tentar fazê-lo, mesmo sabendo que este Girl Meets Boy é um livro estranho, mas bom.
Encontrei-o em Londres e percebi que faz parte da mesma colecção que The Penelopiad, de Margaret Atwood, de que já vos falei aqui pelo blog. Este conjunto de livros traz reinterpretações modernas de mitos clássicos e Ali Smith decidiu pegar n’As Metamorfoses de Ovídio para abordar a fluidez de género. A sinopse do livro diz que é uma história sobre raparigas e rapazes, raparigas e raparigas, amor e transformação — e eu acrescentaria que é uma história acerca da forma como nada é estanque: nem quem somos, nem quem amamos.
She had the swagger of a girl. She blushed like a boy. She had a girl’s toughness. She has a boy’s gentleness. She was as meaty as a girl. She was as graceful as a boy. She was as brave and handsome and rough as a girl. She was as pretty and delicate and dainty as a boy. She turned boys' heads like a girl. She turned girls' heads like a boy. She made love like a boy. She made love like a girl. She was so boyish it was girlish, so girlish it was boyish, she made me want to rove the world writing our names on every tree. I had simply never found someone so right. Sometimes this shocked me so much that I was unable to speak.
Encontro sempre muita actualidade na escrita de Ali Smith. Nota-se que é uma mulher em constante preocupação com o que se passa à sua volta, que cria personagens interessantes para conseguir pôr esses temas nas coisas que escreve. Tem também um estilo muito próprio, difícil de catalogar. Diria até que, em Girl Meets Boy, fluidez é mesmo a palavra de ordem porque está presente no enredo, mas também na forma como a autora escreve.
Não sei se vos convenci a dar uma oportunidade à escrita e aos pensamentos desta mulher, mas espero que sim. Prometo que, além de tudo aquilo de que já falei, vão encontrar bastante sarcasmo, só precisam de mergulhar completamente nas páginas dos seus livros. E antes que perguntem: sim, está traduzido para português pela Elsinore — como, aliás, os seus principais títulos. O que é que já leram dela, que me possam recomendar?