Filhos da Chuva, Álvaro Curia
Sabem quando acompanham uma pessoa pelas redes e ficam felizes pelo sucesso delas? Foi assim que me senti quando soube que o Álvaro, uma das caras do projeto Literacidades, iria lançar o seu primeiro romance — e logo pela Manuscrito, que também é a minha editora. Filhos da Chuva chegou-me às mãos antes, para ler e escrever uma frase para a contracapa se assim achasse justo.
Na altura, como já disse, só consegui ler metade, mas bastou-me o primeiro capítulo para ter a certeza do que quereria dizer sobre ele. Isto porque a primeira coisa que notei foi a escrita do Álvaro — tão diferente daquilo que eu esperava e, ainda assim, tão certa para a pessoa que ele é. Não sei se fiz sentido, mas realmente lembro-me de pensar que o autor teve muito cuidado com a escolha das palavras, com a sua ordem, com o tom que quis dar à história.
Por falar nisso, Filhos da Chuva acompanha, então, duas histórias aparentemente independentes. De um lado temos a ação passada em Domínio, onde conhecemos Muda e o seu filho Amor; do outro temos a Ilha da Fortaleza, de onde são Mãe e Filho. As duas relações mãe-filho são muito diferentes, uma é mais possessiva e a outra é mais carinhosa, mas ambas servem para explorar a necessidade que temos de sair do abraço dos nossos pais e descobrir o mundo por nós.
Chorar sem som é o apogeu da sinceridade. Quando se chora sem som, pensei eu na altura, é porque algo nos dói mesmo, já que o choro calado de fita nada tem, não procura ser visto.
Aquilo de que mais gostei neste livro foi, sem sombra de dúvida, a capacidade de construção de todo este mundo. Domínio é uma terra onde nunca para de chover e onde os relógios estão congelados nas cinco da tarde, há praias cobertas por teias de aranha e outras por vidros, há homens que perdem peso numa viagem de barco… houve, no fundo, um cuidado em criar um mundo que é extremamente original e diferente, com laivos de realismo mágico.
O ritmo da história foi talvez o aspeto que teve menos que ver com as minhas leituras habituais e, por isso, aquilo em que tive um pouco mais de dificuldade — ainda assim, a segunda parte do livro acelera bastante e torna-se impossível parar até sabermos como termina. Acima de tudo, Filhos da Chuva deixou-me em pulgas por saber que outras histórias existem dentro do Álvaro, prontas para serem contadas.
E vocês, já leram este livro? Se sim, o que acharam?