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Rita da Nova

Sex | 02.05.25

Filho da Mãe, Hugo Gonçalves

Parem tudo, parem tudo! Encontrei um dos meus livros favoritos do ano. Sim, sei que ainda estamos em maio (abril quando o li), mas não interessa: Filho da Mãe, de Hugo Gonçalves, agarrou-me desde a primeira página e só me deixou ir depois de uma bonita sessão de choro nos últimos capítulos. Não que eu ache que a qualidade de um livro se meça pelas lágrimas derramadas, mas neste caso as duas coisas coincidem.

 

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Já o tinha no Kobo há largos meses, mas ganhou prioridade na minha lista de leituras depois de ir à apresentação de Filho do Pai, o mais recente livro do autor. Sendo que Filho da Mãe aborda a morte da mãe do escritor, e Filho do Pai se centra na morte do pai, não há como não desenhar alguns paralelismos entre as obras, embora possam perfeitamente ser lidas de forma independente. Antes de agarrar Filho do Pai quis ler o primeiro e ainda bem que o fiz.

 

Filho da Mãe é um relato biográfico, e uma espécie de investigação levada a cabo por Hugo Gonçalves para conseguir reconstituir a mulher que a sua mãe era. Falecida em 1985, quando Hugo ainda andava na escola primária, poucas eram as memórias reais e palpáveis que tinha dela — só após a morte do avô, quando Hugo tinha quase quarenta anos, é que os documentos deixados em testamento deram o mote para uma viagem ao passado.

 

A dor era minha, não pertencia a mais ninguém. Não se tratava de um sofrimento ininterrupto, uma lembrança a toda a hora, não me fazia ficar dias na cama e nunca tive tendência para estados depressivos. Era antes um desassossego subterrâneo, a luta por outra coisa, a fé cega na etapa seguinte.

 

Hugo Gonçalves escreve e reescreve a figura da mãe com base em documentação, fotografias, relatos e memórias, seus e de outras pessoas, e leva o leitor ao longo desta viagem que ele próprio faz. É quase como se assistíssemos ao exercício de escrita enquanto ele acontece, um lugar onde a emoção convive com a dúvida e onde, inevitavelmente, acabam a surgir reflexões sobre outros temas. Filho da Mãe não aborda apenas a dor de perder uma mãe tão cedo, mas sobretudo as consequências que isso pode ter para a família que fica para trás — para um pai que tem de se reerguer, para dois filhos que têm de aprender a existir sem essa presença feminina.

 

Embora já tivesse lido romances do autor — Revolução e Deus Pátria Família —, a escrita de Hugo Gonçalves brilha especialmente neste formato, atingindo aqui notas de vulnerabilidade e intimidade que ainda não lhe conhecia. Adorei, adorei, adorei. Recomendo muito que o leiam, mesmo. E brevemente partirei para Filho do Pai com o objetivo de lhe encontrar semelhanças, mas, acima de tudo, diferenças.

 

Há por aí fãs de Hugo Gonçalves? Acusem-se!