Dividimos a Conta // Joana Diogo no Fauna & Flora
Assim que entrei no Fauna & Flora e olhei para a Joana, sentada na mesa redonda que em tempos foi uma bobine, percebi imediatamente que íamos ter um bom lanche. Nós nunca nos tínhamos conhecido pessoalmente e seguíamo-nos timidamente no Instagram, mas qualquer coisa nas fotografias que tira e nas descrições que escreve me dizia que tínhamos muito para conversar sobre comida.
Com a sua camisa floral (espantem-se: por coincidência eu e a Margarida também levávamos camisas com flores), a Joana encaixou que nem uma luva naquele espaço, mostrando que é em sítios assim que se sente bem - sítios calmos, ligados à natureza e à comida saudável. É impossível fugir a este tema numa conversa com a Joana porque, há uns anos, fez uma mudança grande na alimentação.
“A minha relação com a minha comida é uma evolução brutal. Sou do Ribatejo, onde é tudo baseado na cozinha tradicional portuguesa - carne, cozido, cabrito. Depois fui para a faculdade, mas também se sabe que nessa altura uma pessoa não se preocupa muito com isso. Na faculdade fui tendo já algum contacto com estilos de alimentação diferentes e foi com a cadeira de dietética e nutrição que comecei a perceber alguns erros alimentares que fazia já há imenso tempo.”
Apesar de ter trabalhado durante algum tempo em radiologia, o curso que tirou, foi só quando mudou para a indústria farmacêutica e engravidou que se deu a grande mudança e revelação. “Aí pensei: espera aí que estou a fazer crescer um ser dentro de mim e quero dar-lhe o melhor para o desenvolvimento dele.” Nada como ler e estudar e foi isso mesmo que a Joana fez - dedicou-se a perceber mais sobre o que é uma alimentação saudável e, ao mesmo tempo, foi percebendo várias coisas sobre o seu corpo e aquilo que ele precisa para estar bem.
“Percebi que era mais feliz com uma alimentação maioritariamente vegetariana”, diz-me, enquanto olha para o menu e escolhe uma Açaí Bowl. Já eu e a Margarida fomos mais gulosas: eu pedi umas Panquecas Spicy Pumpkin (com doce de abóbora, gengibre, canela, creme de requeijão e nozes pecan) e ela pediu umas Panquecas Green (matcha, lemon curd, frutos círicos e kiwi).
Com a mudança que fez, a Joana começou a inspirar as pessoas que a rodeiam: a cunhada tornou-se vegan, a melhor amiga passou a ser completamente vegetariana e, mesmo lá em casa, as refeições passaram a ser bastante diferentes. Cozinhar uma refeição é a forma natural que encontraram de passar tempo de qualidade juntos. A Joana tem o know-how da alimentação saudável e tem ideias de receitas, o marido executa-as na perfeição e o Sebastião, o filho, vai ajudando no que consegue. “Aos dois anos, ele já mostra muita curiosidade sobre o que estamos a fazer”, por isso é normal vê-lo em cima de um banquinho a acompanhar os pais.
“A cozinha é o ponto principal de uma casa - como bons portugueses que somos reunimos sempre à volta da mesa, mas eu não quero que seja só o estar à mesa, acho que o cozinhar também é muito importante. Acho que é isso que une as famílias - podemos todos estar a ver uma série juntos ou sair e estar ao ar livre, mas em casa o ponto principal é esse, o de cozinhar.”
À tradição de cozinharem juntos sempre que possível, junta-se o ritual de sábado de manhã. Vão à praça juntos, para comprar essencialmente legumes, fruta e peixe. Para além disso, sempre que podem optam por comprar biológico e evitam comer comida processada. “A base da minha alimentação é 80% vegetariana. Não deixei de comer carne nem peixe, até porque não sou nada restritiva com a alimentação do Sebastião, acho que deve crescer com o máximo de referências possível”, resume.
É projecto Fox & June, que mantém em dupla e que promete trazer inspiração para a vida do dia-a-dia, que a Joana consegue expressar esta relação de aprendizagem constante que tem com a comida. “Na altura do lançamento do projecto fui fazer o curso Fazer da Cozinha uma Farmácia, do Gabriel Mateus, para ter bases e poder falar à vontade sobre alimentação”. Ainda assim, a comida está presente noutras áreas da vida que gosta de partilhar: na sua constante descoberta de alojamentos em Portugal ou até nas viagens fora do país.
É normal vê-la escapar-se para o Alentejo, que a lembra o dolce far niente italiano: é calmo, tem a praia junto ao campo e a gastronomia é maravilhosa. Confesso aqui que é ao Instagram da Joana que vou buscar ideias sempre que quero conhecer um novo sítio em Portugal. “Assim que abre qualquer sítio vamos logo experimentar”, conta. “Quando se fala em viajar as pessoas pensam logo em apanhar um avião, fazer grandes bagagens e pagar imenso. Mas não, às vezes basta ir dois dias para fora de Lisboa e temos uma experiência logo totalmente diferente - paisagens diferentes, gastronomias diferentes, festas e culturas diferentes.”
Mas as viagens fora do país também lhe ficam na memória e conservam sabores e experiências gastronómicas. A mais impactante foi, sem dúvida, o Japão. “Até hoje foi onde comi as coisas mais variadas e diferentes - e era tudo óptimo. Teres a experiência de comer sushi num mercado de peixe, quando eles estão a cortar peixe na bancada lá atrás e servem-te ali na hora é uma coisa fantástica.”
Para terem noção da importância e impacto desta viagem, era a Kyoto que a Joana regressaria para uma última refeição. “Depois da experiência que tive no Japão, mandava vir aquele bife Kobe. É estranho uma pessoa que deixou praticamente de comer carne dizer isto, mas aquela foi efectivamente das melhores refeições da minha vida.” Depois da nossa primeira conversa in loco, acho que é isto que resume a Joana: a abertura a experiências novas e a certeza de que elas podem conviver perfeitamente com as coisas em que acredita, mesmo que pareçam ser completamente opostas. É o equilíbrio e paz nas decisões que toma, dando sempre espaço à vida para a surpreender e lhe mostrar novos caminhos.
Se ainda não a conhecem, saiam já daqui e vão acompanhá-la tanto no Instagram como no Fox & June. Não se vão arrepender, mas podem ficar com uma vontade incontrolável de comer pratos simples, mas maravilhosos, e de viajar (nem que seja “ir para fora cá dentro”).
1. Refeição favorita? Jantar.
2. Cozinhar ou comer fora? Cozinhar.
3. Um restaurante de sempre? Prado.
4. Uma moda gastronómica de que até gostas? Ramen.
5. Algo que cozinhas especialmente bem? Sopa.
6. Uma alergia? Leite (intolerância).
7. Chá ou café? Chá.
8. Uma comida do mundo? Bife Kobe.
9. Um restaurante que querias que se mantivesse segredo? Ona, Costa da Caparica.
10. Dividir a conta ou cada um paga o que comeu? Dividir a conta.
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Este post faz parte da rubrica Dividimos a Conta. Todos os meses convido uma pessoa para almoçar ou jantar fora em restaurantes Zomato Gold, para conversarmos sobre a sua relação com a comida. O que gosta, o que não gosta, o que aprendeu a gostar, mas manias, as receitas de família… enfim, o que surgir. A parte boa é que, com a Zomato Gold, temos sempre direito a um prato grátis a compra de outro (e se usarem o código RITADA, têm 25% de desconto na subscrição de qualquer pacote).
[Todas as fotografias deste post são da autoria da Margarida Pestana.]