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Rita da Nova

Seg | 14.01.19

Dividimos a Conta // Cláudia Gonçalves Ganhão no Peixola

Conversar com a Cláudia sobre comida leva-nos - mesmo que ela não se aperceba - sempre aos mesmos temas: à comida como conforto, à família e ao papel que tudo isto cumpre na infância. Assim que entrámos no Peixola, no Chiado, compreendi imediatamente porque é que ela tinha escolhido este restaurante para o nosso jantar. Apesar de gostar de algumas carnes, o peixe é um dos ingredientes mais presentes na sua vida familiar.

 

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Se acham que é impossível pôr crianças pequenas a comer peixe, então têm que ir a casa da Cláudia, onde os filhos fazem uma festa sempre que o jantar é bacalhau e onde o salmão já tem um lugar especial à mesa. A alimentação é um dos pontos em que tenta ter o máximo de atenção possível e tenta incutir algumas regras aos filhos: “não se diz que não se gosta de alguma coisa sem se provar e cada um dos meus filhos tem direito a não gostar de duas coisas”, conta, enquanto chegam à mesa umas Ostras com espuma do mar e maracujá.

 

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Lá por casa, a alimentação é o mais equilibrada possível. Tenta que não haja açúcares refinados e comida processada, e a Cláudia faz por cozinhar quase tudo, desde as refeições em casa como as marmitas para a escola. Afinal, é química de formação e todos os dias encara a culinária como uma experiência, em que pode ver os elementos a mudar de forma e a combinar uns com os outros. Outra regra que seguem à risca é a de todos comerem o mesmo às refeições, não há pratos diferentes para os filhos e para os pais. Talvez por isso o peixe cozido com brócolos e cenoura seja um dos pratos favoritos de todos.

 

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Embora valorizem o tempo passado em casa, há pelo menos um dia do fim-de-semana em que almoçam fora. Apesar de ainda não ter arriscado levar os filhos a experimentar gastronomias mais condimentadas e diferentes, como a indiana e a mexicana, admite que os miúdos gostam de provar coisas novas. “Com as crianças acabamos sempre por ir às pizzas” e, neste campo, o Mercantina, o Ginos e o Pasta non Basta são alguns dos favoritos.

 

Estas visitas a restaurantes acontecem normalmente ao almoço, já que ao jantar as pessoas gostam de estar mais descontraídas e a Cláudia sabe que é quase impossível manter duas crianças sossegadas durante uma refeição inteira. É por isso que procura sempre escolher restaurantes kid-friendly. Quando começamos a provar a lindíssima Sopa de Clorofila que chega à mesa, ela explica-me o que é que um restaurante tem de ter para ser considerado apto para miúdos. “Tem que ter espaço porque é difícil manter crianças pequenas à mesa durante muito tempo sem ter que usar a tecnologia. Quando há espaço eles podem levantar-se, espreitar a cozinha, ir a uma zona exterior caso exista. Também é importante que possam levar uns lápis e umas canetas para pintar ou para fazer jogos. E, como é difícil manter as crianças caladas, também tem que ser um sítio onde fazer barulho não incomode as outras pessoas.”

 

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Por outro lado, se sair para almoçar ou jantar com o marido ou amigos, a Cláudia faz outro tipo de pesquisa. Usa muito a Zomato para descobrir novos restaurantes através das pessoas em cujas opiniões confia e é importante que consiga perceber que não são restaurantes criados só para turistas e que a comida é feita ali, no momento, com bons ingredientes. Apesar de confiar em algumas reviews, gosta sempre de experimentar e ter a sua própria opinião, de dar o benefício da dúvida, e prefere um restaurante transparente e honesto, mesmo que a comida não seja a melhor do mundo.

 

Algumas boas experiências recentes foram o Segundo Muelle e o Ōkah, mas há alguns restaurantes que repete muitas vezes, como o Yakuza, a Pizzaria Luzzo, o Psi e O Saloio, na Malveira. Quando começou a falar deste restaurante, quase que viajou para tempos de infância, uma vez que comia lá muitas vezes com os avós. Entre um Ceviche Peruano, um Tártaro de Salmão, uns Tacos de peixe e um Pica-pau de atum, levou-me a conhecer algumas histórias de infância, em que a comida teve um papel importante.

 

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Falou-me da primeira vez em que percebeu que comer é bom: foi ao rapar um tacho de arroz doce acabado de fazer pela avó, ainda estava quentinho e cremoso. As memórias do lado da família da mãe acabam todas por ir parar à mesa porque era lá que se reuniam. Tudo se passava à volta de uma mesa onde estavam, normalmente, 13 pessoas sentadas. Noutra família isso daria azo a superstições, mas não naquela, que via nas refeições um momento para contar piadas, cantar, rir e conversar. Quando a Cláudia era criança, notava que os adultos estavam felizes à mesa e isso é uma coisa que tenta trazer para a sua família agora.

 

Admitiu também que a comida da mãe não é a melhor do mundo, mas é aquela que a faz recordar a infância - um momento onde foi feliz de uma forma mais genuína e sem preocupações. “Isto que eu vou dizer pode parecer um bocado down, mas de facto a nossa infância é uma das melhores fases da nossa vida e nós só vamos tendo consciência disso muito mais tarde.”


E foi aqui, quando já estávamos a terminar a refeição com uma Mousse de chocolate com crumble de gengibre e um Petit gateaux de caramelo, que a Cláudia se virou para mim e disse: “eu estou farta de falar de comida de conforto, de comida tradicional e da infância, não estou? Se calhar isso sou mesmo eu.” Sim, Cláudia, és. E falas de tudo isso com um amor tão grande, que eu hei-de cobrar o pequeno-almoço que ficou apalavrado para continuarmos a nossa conversa.

 

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Não deixem de acompanhar a Cláudia no blog e no Instagram. De certeza que vão adorar as sugestões que ela vai deixando, não apenas sobre restaurantes e comida, mas também sobre livros e uma vida minimalista.

 

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Isto ou aquilo? 

1. Refeição favorita? Pequeno-almoço.

2. Cozinhar ou comer fora? Comer fora.

3. Um restaurante de sempre? O Saloio, na Malveira.

4. Uma moda gastronómica de que até gostas? Hambúrgures Gourmet. 

5. Algo que cozinhas especialmente bem? Perna de perú no forno com batatinhas e esparregado.

6. Uma alergia? Lactose.

7. Chá ou café? Chá.

8. Uma comida do mundo? Sushi.

9. Um restaurante que querias que se mantivesse segredo? Segundo Muelle. 

10. Dividir a conta ou cada um paga o que comeu? Dividir a conta.

 

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Este post faz parte da rubrica Dividimos a Conta. Todos os meses convido uma pessoa para almoçar ou jantar fora em restaurantes Zomato Gold, para conversarmos sobre a sua relação com a comida. O que gosta, o que não gosta, o que aprendeu a gostar, mas manias, as receitas de família… enfim, o que surgir. 

 

[Todas as fotografias deste post são da autoria da Margarida Pestana.] 

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