Descansos, Susana Amaro Velho
Foi com muita felicidade que recebi a novidade da publicação de mais um livro da Susana Amaro Velho, não apenas porque simpatizo mesmo muito com ela, mas porque é representativo do fulgor do mercado editorial português neste momento, sobretudo no que diz respeito aos livros de autores portugueses. Além de uma premissa bastante interessante (dramas familiares conquistam-me sempre), Descansos tem também uma capa muito bonita e está disponível gratuitamente no Kobo Plus — três ingredientes perfeitos para me motivar a pegar nele.
Laura regressa à vila onde cresceu depois de muitos anos de afastamento, e fá-lo para comparecer ao funeral da mãe, com quem não se dava particularmente bem. A chegada da protagonista à vila — que nunca é nomeada, mas que podia ser qualquer uma em Portugal — vai desenterrar uma série de acontecimentos e fantasmas passados. Um deles é a morte, muitos anos antes, de Juca, irmã mais nova de Laura, um acontecimento pelo qual ela sempre sentiu culpa. O livro vai sendo contado de diferentes pontos de vista, de várias pessoas desta vila, o que acaba por construir (para o leitor) a realidade destas personagens.
Este foi, sem dúvida alguma, o livro da Susana de que mais gostei. Tem muitas camadas, as personagens — tanto as principais como as secundárias — estão bastante bem construídas e nota-se que a autora perdeu tempo a pensar nelas e a desenvolvê-las. Isso nota-se muito bem na forma como depois interagem umas com as outras e como fazem a narrativa avançar com base nessas interações. Gostei mesmo de sentir que tudo foi escrito com calma, com espaço para que o enredo se desenvolvesse. A única coisa que não funcionou tão bem para mim foi o facto de o início ser bastante lento e, depois, a história se precipitar para uma resolução. Gostaria de ter visto um equilíbrio maior no ritmo, mas é mesmo uma questão de gosto, não tem nada que ver com a qualidade do livro.
Uma última nota para a escrita da Susana: acho que tem um estilo muito camaleónico, e talvez a autora portuguesa (dos que já li) que melhor consegue adaptar a escrita à história. Já tinha sentido isto com Inquieta e voltei a senti-lo agora com Desansos, e é muito interessante acompanhar também esta evolução do ponto de vista da escrita em si, não apenas do modo como conta histórias.
Quem desse lado já se aventurou em Descansos ou noutros livros da autora?