Cai a noite em Caracas, Karina Sainz Borgo
Sabem aqueles livros que vos são constantemente recomendados, para mais recomendações vindas de pessoas em cuja opinião vocês confiam cegamente? Então saberão, certamente, que por algum motivo também são aqueles que vamos deixando bem para o fim da lista de livros que temos para ler. Será porque temos a certeza de que vai ser uma boa leitura? E, se for esse o motivo, então porque é que não lhes damos prioridade?
Pensei nisto tudo quando terminei Cai a noite em Caracas, de Karina Sainz Borgo, que tinha há que tempos no Kobo para ler. Como me foi sugerido várias vezes, acabei por nunca ler a sinopse e não sabia ao que ia. O livro começa com a personagem principal, Adelaida, no funeral da sua mãe, com o mesmo nome. Passados alguns dias desta perda, Adelaida encontra a sua casa ocupada por um grupo de mulheres que defendem o regime ditatorial — e é aí que a história começa a ganhar acção, uma vez que a personagem terá de passar por vários desafios para conseguir sobreviver. Inclusivamente, terá de deixar de ser ela mesma.
Os Filhos da Revolução conseguiram chegar bastante longe. Separaram-nos em ambos os lados de uma linha. O que tem e o que não tem. O que parte e o que fica. O que é de fiar e o suspeito. Instituíram a reprovação como mais uma das divisões que tinham criado numa sociedade que já as possuía. Eu não vivia bem, mas de uma coisa estava certa: podia estar sempre pior.
A escrita prendeu-me logo no primeiro capítulo, depois esmoreceu um pouco, mas assim que Adelaida vê a sua casa ocupada, não consegui parar de ler. Este livro é um excelente exemplo de como a literatura pode ser uma porta para outras vidas — para vidas que, se tudo correr bem, nunca teremos de viver, mas que é importante saber que existem. Karina Sainz Borgo é uma jornalista venezuelana e consegue trazer todo o contexto social e político necessário para a vida desta personagem, mostrando-nos a urgência que tem em abandonar o seu país.
Senti só necessidade de que fosse um pouco maior. Por norma sou a favor de histórias contadas com o mínimo de palavras possível, mas esta terminou quando eu estava mesmo embrenhada no enredo e a torcer para que tudo corresse bem com a Adelaida. De resto, acho que é impossível não gostar do romance de estreia da autora e vou ficar de olho em tudo o que escrever. Quem desse lado já leu este livro? O que acharam?