Berlim: a parte histórica da cidade
Berlim foi o destino final do inter-rail que fiz pela Europa de Leste, em 2012. Curiosamente, nunca cheguei a escrever sobre esta cidade aqui pelo blog - mesmo quando ainda era só um sítio onde escrevia sobre viagens. Acho mais do que justo aproveitar esta ida mais recente - que foi o meu presente de Natal para o Guilherme - para vos dar um roteiro para aproveitarem Berlim em 48 horas.
A primeira coisa que têm de saber é que dois dias é assumidamente pouco tempo para conhecer esta cidade, que geograficamente consegue ser maior do que Londres. Fomos na quinta à noite, tivemos os dias de sexta e sábado completos e regressámos domingo à hora de almoço. Com isto em mente, o plano que traçámos para este fim-de-semana de Páscoa ajudou a tirar o máximo partido do tempo que tínhamos. O que fizemos foi dividir os dois dias completos em duas facetas diferentes de Berlim: uma mais histórica e outra mais alternativa, que se complementam demasiado bem e a tornam numa cidade muito particular. No post de hoje vou falar-vos da parte histórica e, se quiserem, mais turística de Berlim.
Dia 1: Berlim Histórica
Optámos por dormir num Airbnb baratinho perto do Volkspark Friedrichshain, mas longe do centro histórico. Só que, como somos malucos e gostamos de andar a pé, neste primeiro dia caminhámos cerca de uma hora até à Brandebourg Tor. Este é um dos monumentos mais icónicos de Berlim e tem uma curiosidade: a estátua das portas está virada para dentro da cidade e não para fora como costuma acontecer, com o objectivo de representar que está a olhar pelas pessoas da cidade e não a observar quem vem de fora. Era também da Parisier Platz, onde se localiza a Brandebourg Tor, que iria partir a free walking tour dos Sandeman que costumamos fazer em quase todas as cidades europeias a que vamos.
Não fazia muito frio, por isso o passeio foi bom e permitiu-nos conhecer alguns bairros mais residenciais. E, mais importante que isso, eu já tinha um sítio em mira a meio do percurso para tomar o pequeno-almoço - o Zeit für Brot. Como tive oportunidade de partilhar no Instagram: como assim, há um sítio só de Cinnamon Rolls em Berlim? É claro que eu tinha de lá ir e, digo-vos, é mesmo maravilhoso.
De barriga cheia lá chegámos ao local de encontro da tour, que nos ajudou a conhecer um pouco mais da história da cidade e alguns dos locais imperdíveis. Passámos perto do Reichstag, o edifício do parlamento que ardeu na altura em que Hitler subiu ao poder e que, depois da II Guerra Mundial tem uma cúpula transparente que permite observar tudo o que se passa lá dentro. Infelizmente agora é preciso reservar entrada com antecedência e quando tentei fazê-lo já não havia lugares para visitar.
Bem perto fica também o Memorial do Holocausto, um conjunto de 2711 colunas de cimento para relembrar as vítimas desse massacre. Não há placas nem indicações de como devemos interpretá-lo, pelo que cada um é livre de lhe dar um significado próprio. Já da outra vez tinha sentido isto: ao andar no meio destes blocos de cimento, sinto-me cada vez mais sozinha, mas ao mesmo tempo sei que está alguém a caminhar por ali apesar de eu não conseguir ver. Acho que o que sinto é uma réstia de esperança apesar de me sentir perdida. Mas isto sou eu que gosto de dar uma interpretação positiva às coisas.
Passámos ainda por outros pontos interessantes: o local onde costumava ser o Bunker de Hitler, mas que agora é um parque de estacionamento, perto do Bundesministerium der Finanzen e o famoso Checkpoint Charlie onde a RFA e a RDA se encontravam e onde houve grandes momentos de tensão durante a Guerra Fria.
Continuámos a caminhar em direcção à Ilha dos Museus, um pedaço de terra isolado no meio do Rio Spree, e conhecemos a praça Gendarmenmarkt. Aqui fica não só a Konzerthaus, como a Catedral Francesa e a imitação que os alemães fizeram dela - a Catedral Alemã. Frente a frente, em disputa, um reflexo do que aconteceu historicamente entre estes dois países.
Para terminar a tour fomos à Bebelplatz para ouvir uma história que, pelo menos para mim, era desconhecida até então. É a história de um grupo de nazis que em 1933 entrou dentro da biblioteca da Humboldt-Universität e queimou todos os livros que iam contra a sua ideologia. Foram mais de 20 mil livros e podem calcular o efeito que isso teve em mim quando soube. Num memorial colocado no centro da praça, há uma frase dita 100 anos antes pelo poeta Heinrich Heine: Wherever books are burned, human beings are destined to be burned too. Parece premonitório, certo?
É verdade que os alemães têm a mania dos memoriais e Berlim está cheia deles, mas também é verdade que são muito importantes. Enquanto houver memoriais a relembrá-los do passado dificilmente eventos como o Holocausto acontecerão novamente. E os alemães têm até uma palavra para significar o sentimento de fazer as pazes com as coisas que aconteceram no passado - Vergangenheitsbewältigung.
E como este post já está a ficar meio deprimente - desculpem, mas às vezes tem que ser - chegou a hora de vos contar o que fizemos durante a tarde. Atravessámos a Ilha dos Museus em direcção à House of Small Wonder, um pequeno café-restaurante, que é também uma galeria de arte e onde se serve comida de inspiração asiática. Não só é um sítio mesmo muito giro, como nos dá a sensação de escaparmos de uma cidade grande como Berlim durante umas horas.
Como somos doidos (já disse, não já?), depois de almoço atravessámos todo o Tiergarten a pé, até chegarmos à zona do Jardim Zoológico. O nosso objectivo principal não era visitar o zoo, mas sim ir à exposição do Bansky que havia lá perto. Só que nos esquecemos que era Sexta-feira Santa e, portanto, a exposição estava fechada. Já que ali estávamos, optámos por ir ver pandas ao zoo. Já sabem que, normalmente, não sou grande fã de sítios assim, mas este em particular tem uma enorme contribuição para a preservação e reprodução dos pandas, por isso não me senti tão mal.
Só antes de jantar é que escolhemos, pela primeira vez, andar de metro. As pernas já acusavam muito cansaço - afinal, andámos cerca de 20km neste primeiro dia - e decidimos ir para o lado este da cidade, mais perto de nossa casa, para jantar os maravilhosos hambúrgueres do Burgermeister. Não é bem um restaurante, é uma antiga casa-de-banho pública que fica debaixo da ponte da estação de metro de Schlesisches Tor, e onde há sempre filas intermináveis à porta. Depois de provar a comida percebi porquê e, se tiverem vontade de experimentar, então não deixem que a quantidade de pessoas vos demova. O serviço é bastante rápido e tanto podem comer lá ou levar para casa, como nós fizemos, porque já estávamos para lá de mortos.
Como vos disse, no primeiro dia fizemos quase tudo a pé, mas se não gostarem de andar ou estiverem mais apertados de tempo, saibam que usando metro ou os comboios chegam a qualquer parte da cidade rapidamente. Aconselho-vos a comprar um bilhete diário de metro (que pode ser usado até às 3h da manhã do dia seguinte) porque os bilhetes individuais são muito mais caros e não compensa.
Depois de vos ter mostrado alguns dos pontos mais históricos e turísticos, pretendo ainda relatar-vos a experiência que tive numa outra Berlim, a alternativa. Mas isso fica para a semana, combinado? Até lá, digam-me: acharam este post útil? Que outras coisas gostavam de saber?