As minhas pessoas // Pincha
O Pincha não gosta de surpresas, por isso tive que lhe pedir autorização antes de escrever este post. Mandei-lhe uma mensagem a perguntar, mas aposto que, se o tivesse feito presencialmente, o teria visto a torcer o nariz e a soltar um “Opá!” que lhe é tão característico.
Conheci-o em 2008, quando entrou para a minha turma de 12º ano. Ele não gostou de mim: achou-me irritante e convencida, porque era a melhor aluna da turma e nunca tinha tido concorrência à altura. Só um ódio comum consegue aproximar duas pessoas e, no nosso caso, esse ódio era o exercício físico (eu já fiz as pazes, ele ainda não). Foi durante um corta-mato - que ambos percorremos contrariados e a andar - que percebemos que tínhamos também interesses e objectivos comuns. Queríamos ir para a Nova tirar Ciências da Comunicação. Eu tinha a certeza que queria ser jornalista, ele ainda não sabia. Hoje em dia ele trabalha no Público e eu já me deixei dessas lides.
Nunca fomos daqueles amigos muito agarradinhos e melosos, embora eu lhe chame muitas vezes “Queijinho Fresco” e ele me trate por “Torta de Azeitão”. Passam-se meses que não estamos juntos, mas sempre que nos reencontramos damos um longo abraço (não sem antes gritarmos “venham daí esses ossos!”).
Fizemos um percurso comum durante muito tempo: o último ano de secundário, três anos de faculdade, um inter-rail e um estágio no Público. Confiei-lhe a minha vida quando o desafiei para vir comigo percorrer a Europa de Leste de mochila às costas, durante um mês. Eu já tinha percebido antes que podia contar com ele para sempre (afinal, só ele consegue gostar mais do Bruno Aleixo do que eu), mas essa viagem trouxe-me a confirmação.
Raramente lhe digo estas coisas, mas tenho um orgulho imenso na pessoa que ele se tem tornado ao longo dos anos; no homem calmo e ponderado que é; no talento que tem. Aproveito para fazê-lo agora que chegámos os dois aos 26 anos e estamos, oficialmente, mais perto dos 30 do que dos 20. Quero que entre neste novo ano da vida dele com a certeza de que, se há pessoa que quero manter sempre na minha vida, é ele - seja a vê-lo quando-o-rei-faz-anos ou durante uma viagem de um mês.
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Este é o quarto post sobre as minhas pessoas: aquelas que fizeram e fazem de mim quem sou. As que ensinam - às vezes sem saberem - como andar neste sítio caótico que é o mundo. Espero que gostem tanto de as conhecer como eu gosto de as ter na minha vida.