Argentina // El Chaltén
Depois de ter regressado da nossa aventura de quase três semanas na Argentina, custa-me a acreditar que estivemos para não ir a El Chaltén. O nosso plano inicial era fazer uma day trip a esta terra a partir de El Calafate (de que vos falei na semana passada), mas depois de falarmos com algumas pessoas que lá tinham estado, percebemos que era um local para explorar com mais tempo.
El Chaltén é uma terra bem mais recente do que muito boa gente: foi criada em 1985, com o objectivo de proteger a fronteira patagónica que separa a Argentina do Chile. Sendo a Patagónia um território partilhado entre os dois países, cujos limites ainda não estão completamente definidos, é muito comum que se adopte esta estratégia para assegurar que conseguem mais partes desta zona.
Esta é a cidade mais recente da Argetina e isso vê-se também no ambiente. Embora não seja muito grande nem tenha muita coisa, há sempre actividades a acontecer e a rua principal está cheia de restaurantes saudáveis e vegetarianos, de cervejarias artesanais e negócios mais sustentáveis. E o mais engraçado de tudo é que ainda há muita resistência ao wi-fi e à internet em geral - por isso, se procuram uns dias longe do resto do mundo, El Chaltén tem de estar na vossa rota.
Aquilo que nos levou a esta cidade foi o facto de ser considerada a capital argentina do trekking, uma actividade que temos vindo a gostar cada vez mais de fazer. A bom da verdade, não é nada mais, nada menos do que andar em trilhos no meio da natureza e aqui torna-se especialmente bonito pela quantidade de montanhas, glaciares e lagos que podemos observar pelo caminho, até porque estamos em pleno Parque Nacional Los Glaciares. Nós fizemos cinco percursos em três dias e vou falar-vos sobre cada um com um pouco mais de detalhe:
Dia 1: Laguna Torre
O primeiro dia de trekking em El Chaltén foi o único em que apanhámos algum mau tempo. São cerca de 9km até chegarmos à Laguna Torre, que infelizmente não conseguimos ver tão bem quanto queríamos por estar muito nublado. Honestamente - e apesar de serem 18km ao todo - não achei um percurso fisicamente exigente, à excepção dos primeiros 3km (são a subir, o restante é bastante plano).
Dia 2: Laguna Los Tres
Foi o ponto alto da viagem, definitivamente. Já nos tinham dito maravilhas e horrores (sim, ao mesmo tempo) sobre este percurso e pudemos atestar tudo. Ao contrário do dia anterior, tivemos uma sorte desgraçada com o tempo e acho que isso contribuiu para que eu tenha gostado tanto de fazer este caminho. Há duas formas de o fazer: podemos começar na vila, o que implica ir e vir pelo mesmo caminho, ou podemos apanhar um transfer até El Pilar e fazer a primeira parte do caminho pelo Rio Piedras Blancas. Nós optámos pelo segundo caminho e foi óptimo porque vimos sempre coisas diferentes.
É um percurso maravilhoso e embora sejam 10km até chegarmos à lagoa, só o quilómetro final é que é do “démoino”. É apenas 1km, mas são 400 metros de altitude por um caminho cheio de pedras, algumas delas soltas. Foi uma das coisas mais exigentes que fiz na vida - e olhem que eu vou ao ginásio todos os dias. Mas chegar lá a cima e ver este cenário lindíssimo valeu cada dor nas pernas. Assim que cheguei lá a cima emocionei-me e desatei a chorar (o que provavelmente tem a ver com a adrenalina toda de subir aquilo tudo). Acreditem, foi possivelmente a coisa mais bonita que vi na vida e tenho pena que as fotografias não façam jus à paisagem. A seguir foi andar mais 10km até chegar à cidade e cair para o lado depois de comer umas empanadas e beber umas cervejas.
Dia 3: Chorrillo del Salto, Mirador de los Condores e Mirador de las Aquilas
No último dia em El Chaltén decidimos fazer alguns trilhos mais suaves, mas como fizemos três foi mais ou menos dar ao mesmo em termos de cansaço no final do dia. Seja como for, são três percursos interessantes para quem não se quer aventurar em coisas muito exigentes. O caminho do Chorrillo del Salto foi o que mais gostei, uma vez que no final vamos dar a uma cascata muito bonita. Os outros dois encontram-se à entrada da cidade e dão-nos uma vista panorâmica sobre El Chaltén.
Resumindo: foram três dias muito intensos de caminhadas, mas foi possivelmente a parte da viagem que me vai deixar mais memórias. Soube-me muito bem passar estes dias imersa na natureza, a respirar ar puro e a ver as verdadeiras paisagens patagónicas, que de outra forma perderia. Quem desse lado conhece El Chaltén e tudo o que este destino tem para oferecer? Contem-me tudo nos comentários!