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Rita da Nova

Ter | 04.02.25

All the Water in the World, Eiren Caffall

Comecei o ano de leituras com um objetivo claro em mente: estar menos focada em novidades e mais atenta ao que já «passou de moda», pontos extra se forem livros que já tenho cá por casa. Permiti-me, ainda assim, a escolher uma novidade por mês para compor as minhas listas de leituras mensais: em janeiro, esse livro foi All the Water in the World, de Eiren Caffall, uma história distópica sobre o que acontece quando o nível das águas sobre descontroladamente.

 

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Num futuro não muito distante, em que tudo está inundado, Nonie vive com a irmã mais velha, com os pais e com amigos dos pais no telhado do Museu de História Natural, em Nova Iorque. Uma vez que a mãe era investigadora, acabaram por se abrigar no museu, assumindo enquanto grupo a responsabilidade de guardarem os bens daquele espaço. Algum tempo depois, quando uma tempestade mais grave do que o normal atinge a cidade e a mãe de Nonie já não está viva, os sobreviventes vêem-se obrigados a fugir de Manhattan como podem, em busca de um local onde possam reconstruir a sua vida.

 

A building is just a body through which you live a life. What mattered was the people we found and lost, not the places.

 

A história é toda narrada na primeira pessoa, através de Nonie, o que acrescentou uma carga muito especial ao livro. À semelhança do que acontecia com a mãe, esta menina tem uma ligação muito especial à água — e vai-se percebendo ao longo do livro que está dentro do espetro do autismo. Achei a narração e a perspetiva muito refrescantes, e fiquei logo emocionalmente ligada ao enredo através das personagens. Apesar de não termos o ponto de vista das restantes personagens, a verdade é que consegui compreender as motivações de todas. Sobre o enredo em si: talvez faça sentido avisar-vos de que há vários saltos temporais, e que, pelo menos no início, os capítulos referentes ao passado são um pouco mais interessantes do que os do presente. Eu, porém, entrei completamente na história e o ritmo mais lento de algumas partes não me causou confusão — até porque, lá está, senti-me muito conectada com as personagens e gostei de passar tempo com elas.

 

Gostei mesmo muito do livro: estava entusiasmada com a premissa quando o descobri e, para mim, a execução não desiludiu. Fiquei muito presa a todos os pensamentos sobre como se chegou ao ponto em que os glaciares derreteram completamente, ao facto de as pessoas acharem que ainda iria demorar muito e afinal demorou menos do que se esperava. Pareceu-me uma tentativa bem executada de imaginar o que poderá acontecer quando o planeta chegar a essa situação, e assustou-me muito porque sei que estamos mais perto dessa realidade do que gostaríamos. Além disso, também adorei toda a reflexão sobre a necessidade de conservar o que está nos museus, mesmo em alturas em que só queremos sobreviver — e todo o elogio que é feito a quem se assume como guardião do conhecimento.

 

Acabei de ler All the Water in the World com a água a subir-me aos olhos, e acho que é tudo o que precisam de saber sobre a minha experiência com este livro. Se gostam de histórias com um ambiente distópico, então acho que vão gostar mesmo muito deste. Ficaram com vontade de ler?