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Rita da Nova

Qui | 13.03.25

A Viagem do Elefante, José Saramago

Já tinha partilhado convosco que, todos os meses, escolho um dos livros não lidos daqueles que estão arrumados na minha estante. É uma forma de ir dando vazão os livros que tenho cá por casa, e que vão ficando esquecidos. A Viagem do Elefante, de José Saramago, foi o livro que calhou ler em fevereiro; sendo Saramago, já sabia que iria gostar, mas confesso que estava com receio de achar um bocadinho aborrecido.

 

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Saramago soube que, em meados do séc. XVI, D. João III ofereceu um elefante indiano ao seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria. Embora não haja muitos registos históricos desse acontecimento, o escritor baseou-se no que havia e deu largas à imaginação para construir o resto. É assim que nasce A Viagem do Elefante, que relata precisamente o percurso que este animal, chamado Salomão, fez entre Lisboa e Viena — bem como a sua relação com Subhro, o seu cornaca, isto é, o seu cuidador.

 

Claro que, bem ao estilo de Saramago, não é um percurso sem percalços: a comitiva que acompanha estas duas personagens centrais (Salomão e Subhro) vai passando por várias cidades, e atravessando fronteiras entre países, e começam então as dificuldades de comunicação e os choques culturais. Diria que o confronto de culturas e religiões é o principal tema deste livro, assim como as consequências de não conseguirmos compreender e aceitar que os outros sejam diferentes de nós. Com um sentido de humor característico, o autor aborda a questão da xenofobia sem se referir ao termo uma única vez.

 

De todos os livros de Saramago que já li, pareceu-me o mais direto e «limpo» de pormenores desnecessários: as descrições são as suficientes para que o leitor consiga imaginar os cenários, as personagens que não são essenciais ou históricas são reduzidas às suas funções, e há pouco contexto histórico e social para além daquele de que precisamos para situar a história. Para mim, esta economia funcionou bastante bem, uma vez que me ajudou a concentrar-me na crítica social que é o objetivo do livro. E embora não tenha chegado a fazer parte dos meus Saramagos favoritos, foi sem dúvida uma excelente leitura.

 

Já leram este? E porque sou cusca: quais são os vossos livros favoritos de Saramago?