A Viagem do Elefante, José Saramago
Já tinha partilhado convosco que, todos os meses, escolho um dos livros não lidos daqueles que estão arrumados na minha estante. É uma forma de ir dando vazão os livros que tenho cá por casa, e que vão ficando esquecidos. A Viagem do Elefante, de José Saramago, foi o livro que calhou ler em fevereiro; sendo Saramago, já sabia que iria gostar, mas confesso que estava com receio de achar um bocadinho aborrecido.
Saramago soube que, em meados do séc. XVI, D. João III ofereceu um elefante indiano ao seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria. Embora não haja muitos registos históricos desse acontecimento, o escritor baseou-se no que havia e deu largas à imaginação para construir o resto. É assim que nasce A Viagem do Elefante, que relata precisamente o percurso que este animal, chamado Salomão, fez entre Lisboa e Viena — bem como a sua relação com Subhro, o seu cornaca, isto é, o seu cuidador.
Claro que, bem ao estilo de Saramago, não é um percurso sem percalços: a comitiva que acompanha estas duas personagens centrais (Salomão e Subhro) vai passando por várias cidades, e atravessando fronteiras entre países, e começam então as dificuldades de comunicação e os choques culturais. Diria que o confronto de culturas e religiões é o principal tema deste livro, assim como as consequências de não conseguirmos compreender e aceitar que os outros sejam diferentes de nós. Com um sentido de humor característico, o autor aborda a questão da xenofobia sem se referir ao termo uma única vez.
De todos os livros de Saramago que já li, pareceu-me o mais direto e «limpo» de pormenores desnecessários: as descrições são as suficientes para que o leitor consiga imaginar os cenários, as personagens que não são essenciais ou históricas são reduzidas às suas funções, e há pouco contexto histórico e social para além daquele de que precisamos para situar a história. Para mim, esta economia funcionou bastante bem, uma vez que me ajudou a concentrar-me na crítica social que é o objetivo do livro. E embora não tenha chegado a fazer parte dos meus Saramagos favoritos, foi sem dúvida uma excelente leitura.
Já leram este? E porque sou cusca: quais são os vossos livros favoritos de Saramago?