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Rita da Nova

Sex | 29.11.24

A Origem dos Dias, Miguel D’Alte

Recentemente li Os Crimes do Verão de 1985, de Miguel D’Alte, e terminei a leitura com a sensação de que o livro não era bem para mim — sei que funcionou muito bem para algumas pessoas, ainda assim. Estava bastante curiosa com a escrita do autor fora do policial, e recebi com muita expectativa o lançamento d’A Origem dos Dias. E, sim, já dando um pequeno spoiler: gostei bastante mais desta experiência.

 

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Tomás Franco, narrador e protagonista, foge para a cidade do Porto para escapar a uma infância trágica, mas também para cumprir o sonho de ser escritor. Além disso, sente que, com essa distância, conseguirá compreender melhor a história do avô, o escritor Pierre Lacroix, que fugiu de França durante a Segunda Guerra Mundial, mas que caiu em desgraça por conta de algumas coisas que escreveu. Embora o receba bem, o Porto começa também a mostrar-lhe outras coisas: os empregos precários, as noites em claro, a incapacidade de escrever. Quando conhece Leonor, uma mulher misteriosa, ganha novo fôlego e vontade de escrever, mas esta relação também está condenada.

 

Gostei muito da forma como as diferentes linhas narrativas do livro se vão cruzando e interligando — o passado de Pierre Lacroix, o processo de escrita de Tomás Franco, a identidade de Leonor —, e de como tudo acaba a fazer sentido no final, ainda que sobre espaço para criarmos teorias sobre o que realmente aconteceu. Não é um livro para se ler de ânimo leve, já que o protagonista é um homem bastante perturbado, que acaba a depender do álcool e das drogas porque, a certa altura, não vê mais caminho por onde ir. Mesmo não me identificando com este narrador, consegui compreendê-lo e embarcar com ele nesta aventura depressiva.

 

O ponto mais forte do livro, para mim, foi sem dúvida a escrita. Já tinha achado a escrita de Os Crimes do Verão de 1985 bastante competente, mas em A Origem dos Dias senti que estava infinitos furos acima — o que só me leva a concluir que a praia do escritor é mesmo esta. E vocês, já se aventuraram nos livros de Miguel D’Alte? Fiquei com vontade de ler O Lento Esquecimento de Ser.