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Rita da Nova

Qua | 23.08.23

A História de Roma, Joana Bértholo

Nada como começar por ser directa e dizer que este é um dos melhores livros que li este ano — um daqueles que me marcou durante a leitura e no qual não consegui ainda parar de pensar. Tenho a certeza de que irá ficar comigo durante muito tempo e que quererei relê-lo mais tarde, em certos momentos da minha vida.

 

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A História de Roma conta várias histórias, e apenas algumas versões dessas histórias, mas a principal é a de um casal que esteve junto há uma decada e que se reencontra no presente da narrativa, quando ele visita Lisboa, a cidade dela. Durante uma semana, percorrem vários locais e recordam os tempos em que estiveram juntos: a forma como se conheceram, os desejos incompatíveis, os encontros e reencontros em diversos pontos do globo.

 

Joana Bértholo leva-nos pelas ruas de Buenos Aires, de Lisboa, de Berlim, de Marselha e de Beirute, ao mesmo tempo que nos mostra como é que essas cidades tiveram influência na relação entre estas duas personagens ou o contrário, até — como é que eles vivenciaram estes locais tendo em conta o estado da relação naquele momento. É um livro sobre a maneira como construímos as memórias e as nossas versões dos acontecimentos, e sobre o que acontece quando confrontamos as nossas recordações com as dos outros.

 

Vi muito de mim neste livro, por isso admito que tenha sido uma leitura bastante pessoal; em certos momentos, visceral. Joana Bértholo tem um cérebro fascinante e é interessante nunca percebermos quais são as fronteiras entre ficção e realidade: é um livro autobiográfico, é tudo inventado ou é uma mistura das duas coisas? Além disso, reflecte bastante acerca da maternidade, dando-nos a perspectiva das mulheres que escolhem não ser mães. Tendo em conta que, ao dia de hoje, os meus planos futuros e a minha realização enquanto pessoa não passam por ser mãe, senti-me bastante representada nesta protagonista.

 

Ele e eu fomos próximos da forma desapegada e intermitente que é a única que tenho de ser próxima de alguém. Era dele o eixo que estruturava o meu viajar: norte, bússola, não ter medo de me perder. Mesmo antes dos movimentos além-fronteira, foi ele o contraponto ao temperamento volátil da minha mãe. Penso: talvez ser mãe esteja ligado a ser filha. Pode ser que a filha que eu fui determine em parte a mãe que poderia ter sido. Tanto quanto não-sido.

 

A escrita desta autora não é simples, há momentos em que é provável que precisem de um dicionário, mas não deixem que isso vos demova — sobretudo se gostarem de livros com reflexões mais profundas, mesmo que não aconteça assim tanta coisa. Sei bem que não é um livro para toda a gente, mas experimentem dar-lhe uma oportunidade.

 

Há fãs d’A História de Roma por aí?

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