37 dias em casa
Estou no meu 37º dia de isolamento social. Lembro-me de ver um vídeo de uma americana a viver em Wuhan, mostrando dia a dia como estava a quarentena, e recordo-me de ter pensado “50 dias dentro de casa? Isso não vai acontecer cá!”. E agora acho que provavelmente vamos estar ainda mais tempo fechados - se não pela imposição do Estado, pelo medo que teremos de voltar à vida normal.
Desde que vim trabalhar a partir de casa, só saí para três coisas: fazer compras, deixar compras na minha Avó e ir à associação onde faço voluntariado tratar dos gatinhos. O resto do meu tempo é passado nas divisões da minha casa, que de repente são mais do que aquilo que eram antes. O meu escritório, por exemplo, passou a ser um local de trabalho e um jardim interior (sim, muitas plantas!). O quarto divide as funções de ginásio com a sala, depende se estamos a fazer uma aula de crosstraining por zoom ou algo que exige menos espaço. E, de repente, a cozinha deixou de servir para fazer apenas refeições rápidas e passámos a inventar muito mais e a experimentar receitas novas.
Mas nem tudo tem sido assim tão bom, sabem? Tenho a sensação de que daqui a uns anos, quando me lembrar destes tempos tão estranhos, não vou conseguir ainda perceber bem se tudo isto foi maioritariamente positivo ou negativo. Claro que nos permitiu aproveitar mais as nossas casas, não perder tanto tempo desnecessário e stressante no trânsito e, até, poluir bem menos o planeta. Mas - falo por mim - também me tornou uma pessoa mais receosa em relação ao futuro, mais ansiosa e a ferver em muito menos água.
Como saberão, eu sou bem mais introvertida do que extrovertida. Estar em casa e longe das pessoas de quem gosto, sem as ver ou sem falar com elas com frequência, é algo que não me custa fazer - já sou um pouco assim em alturas normais. Por isso, não consigo imaginar como possa estar a ser para quem precisa de pessoas e de sair. E embora cada um tenha que lidar à sua maneira, tenho a certeza que há pessoas para quem isto está a ser muito mais doloroso do que para mim.
37 dias em casa parece muito, mas quando ligo as notícias e olho para a forma como fomos passando estes dias em casa, algo em mim me diz que isto está só a começar. E que, provavelmente, o nosso futuro passará mais por isto que estamos a viver agora do que pelo que vivemos até então. Fico assustada, claro, mas também expectante. É tudo tão estranho, não é?
E vocês, como estão a aguentar-se desse lado? São dos que têm a sorte de poder estar a trabalhar de casa ou nem por isso?