A luz e a vida de Belgrado
Belgrado. Uma das minhas maiores preocupações durante o inter-rail foi o frio. Fazer uma viagem de um mês, entre Outubro e Novembro, pelos países do leste europeu teria sempre inconvenientes deste tipo. A primeira grande surpresa foi na Sérvia: Belgrado recebeu-me de braços abertos e com dois dias soalheiros de 25ºC.
Não foi a única característica surpreendente desta cidade. Sem conhecer nada sobre ela, imaginava-a cinzenta e ainda com feridas abertas, feitas pelas garras do comunismo. O que encontrei deixou-me maravilhada: Belgrado é uma cidade de ruas largas, que se reconstrói e tem a capacidade de se modificar a si mesma a cada dia que passa. A mudança paira no ar e é o aroma mais respirável em toda a cidade. Há um movimento que não pára: nem de noite, quando tudo dorme, sua vida esmorece. É boémia e, ao mesmo tempo, parece concentrada num trabalho que não termina nunca.
As cidades edificadas à beira de um rio terão sempre um fascínio maior que todas as outras. Como se a água abraçasse as ruas e as pessoas, criando uma zona de conforto sem igual. Belgrado é uma sortuda: tem à sua volta não um, mas dois rios. Isso nota-se na felicidade que emana através da luz que se reflecte por todo o lado. Às vezes, Belgrado pode parecer Paris. Pode parecer Sidney ou Chicago. Mas Belgrado tem a particularidade de ser sempre ela mesma, sem qualquer sombra de dúvida.