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Rita da Nova

Ter | 07.10.25

The Safekeep, Yael van der Wouden

Setembro foi o mês em que estreei um novo formato no Clube do Livra-te: todos os meses receberei uma pessoa diferente para discutir as escolhas (uma minha e uma do convidado). Quando pensei nisso, o nome da Leonor Estrela veio-me logo à cabeça: adoro a forma como ela lê e pensa as histórias, as opiniões sustentadas que partilha, e o facto de procurar sempre livros diferentes daqueles que andam a ser promovidos no circuito das redes sociais.

 

the-safekeep-yael-van-der-wouden

 

A Leonor escolheu trazer o Boulder, de que vos falarei brevemente, e eu optei por falar de The Safekeep (PT: A Guardiã), de Yael van der Wouden, que sabia ser um dos favoritos dela. Aliás, eu só o tinha na minha lista de livros para ler por causa dela, então achei que faria todo o sentido discutir esta história com ela. Eu tinha a certeza de que iria gostar deste livro — e não é que não estava enganada?

 

The Safekeep passa-se nos Países Baixos, nos anos 1960, e acompanha a vida de Isabel e da sua vida solitária naquela que é a casa da sua família. Embora a casa pertença tecnicamente ao irmão mais velho, é ela quem mora lá e que toma conta de tudo, garantindo que tudo fica igual ao que era quando a mãe ainda estava viva. Desde o início que esta casa se afirma como uma personagem da história: é o único espaço em que Isabel pode ser ela mesma, com as suas obsessões e idiossincrasias, sem ser julgada pelos outros, e Isabel devolve-lhe o mesmo respeito, cuidando dos objetos e da estrutura da casa. Tudo decorre dentro desta «normalidade» até ao dia em que Eva, namorada do irmão mais velho, entra em cena — esta mulher, que passa uma temporada com Isabel em casa, virá revolucionar esta estrutura por que ela se rege.

 

She belonged to the house in the sense that she had nothing else, no other life than the house, but the house, by itself, did not belong to her.

 

Adorei, adorei, adorei este livro e todas as sensações que me despertou. A prosa de Yael van der Wouden e a escolha de um narrador omnipresente são essenciais para nos fazer sentir exatamente as coisas como Isabel sente, mantendo no entanto uma certa distância que é importante para compreender a personagem e a sua relação com o que está à sua volta. E por falar em relação, claro que fiquei fascinada com a forma sensível como a autora descreveu as interações entre as duas mulheres desta história — é uma narrativa que sabe ponderar muito bem os silêncios, que sabe onde deixar respirar e onde inundar com palavras. Sei que algumas pessoas tiveram dificuldades em lê-lo pela maneira como está escrito, mas eu sinto que foi precisamente um dos aspetos que mais fez o livro funcionar para mim porque me pareceu que tudo estava pensado ao pormenor e repleto de sensibilidade.

 

Vou ficar a pensar nesta história e nestas personagens durante muito tempo, é um daqueles livros que tem a capacidade de ficar bem colado à pele, sabem? Além disso, ainda me ensinou coisas que eu desconhecia sobre o pós II Guerra Mundial — e esta sensação de ter aprendido qualquer coisa com a ficção é algo que valorizo muito.

 

Caso tenham interesse, deixei estes e outros pensamentos mais desenvolvidos no episódio de Livra-te em que falei sobre ele com a Leonor:

 

Mas agora quero saber: leram este The Safekeep? Se sim, o que acharam?

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O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, eu e um convidado escolhemos um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha do convidado, a minha escolha ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião nos comentários do episódio de discussão ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!