Beautyland, Marie-Helene Bertino
2025 está a ser um ano espetacular na descoberta de novos autores. Não apenas de novas vozes, mas de pessoas que fogem completamente às caixinhas em que costumamos inserir os livros de ficção. Já me tinha acontecido com uma leitura recente — Martyr! (PT: Mártir!), de Kaveh Akbar —, e voltou a acontecer-me com este Beautyland (PT: Beautyland - Terra Bela), de Marie Helene-Bertino, no qual sabia um total de… zero.
Este livro chegou-me como oferta da Penguin (obrigada! 🫰) e só então me lembrei de que já tinha visto a capa algures. Daí a fazer dele uma leitura conjunta com a Sofia e o Guilherme foi um instante, e ainda bem que o lemos. Arrisco em dizer que se tornou um favorito dos três, tais foram as emoções e pensamentos que espoletou. Mas começando pelo início, e tentando desvendar apenas o essencial: Beautyland conta a vida de Adina, uma mulher que não se sente em casa no planeta Terra. Mais: Adina considera-se uma extraterrestre e, através de um fax, vai dando informações aos seus «superiores» sobre o que se passa na Terra.
He explains that avoiding experiences because of fear makes them feel bigger than they are. She is panicking over something that, if faced, would turn out to be minuscule. It is called integrating one's shadow self. Instead of avoiding a fear, you move toward it.
Acho que isto é tudo o que precisam de saber antes de partir para a leitura. Diria que interessa pouco perceber se é um livro de ficção científica ou especulativa, porque aquilo que realmente me prendeu à leitura foi a voz da protagonista e a evolução que podemos acompanhar ao longo do livro. Conhecemos Adina no momento do seu nascimento, e é como se nos fosse dada uma janela pela qual podemos espreitar para os pensamentos mais íntimos desta mulher. No fundo, é um livro sobre sentirmos que não pertencemos, que vemos o mundo de uma forma completamente diferente dos outros, mas também sobre encontrarmos quem nos compreenda. Se, no final das contas, Adina é uma extraterrestre, uma mulher no espetro do autismo ou só alguém que pensa de forma diferente, isso pouco interessa — o que interessa realmente é que, em qualquer um desses cenários, encontramos dentro dela humanidade.
When they are lonely, human beings reach out with their holding parts. If no one is around they reach out with their thoughts. They write sentences on paper to express their desire. This makes them feel less alone because they have created another person on the page.
Ler Beautyland é confrontarmo-nos constantemente com as idiossincrasias da personagem, mas também com as nossas. É como se fosse um pêndulo e andássemos sempre entre «isto é estranho» e «isto faz imenso sentido». Se procuram um livro que vos faça sentir compreendidos, mas também que desafie a forma como vemos o mundo, então aqui está ele. Recomendo mesmo muito que o leiam, até porque acho que qualquer pessoa encontrará aqui pontos de identificação e reflexão.
Dei-vos vontade de o ler?