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Rita da Nova

Qui | 15.05.25

Martyr!, Kaveh Akbar

Ainda não estava sequer a meio de Martyr! (PT: Mártir!), de Kaveh Akbar, e já sabia que estava a ler um dos meus livros favoritos do ano — e possivelmente da vida. Aliás, algo me dizia que eu ia gostar muito deste livro mesmo ainda antes de lhe pegar, e o meu instinto não estava errado. Às vezes há mesmo coisas inexplicáveis, e esta foi uma delas.

 

martyr-kaveh-akbar

 

Martyr! começa com o nosso protagonista, Cyrus Shams, um jovem órfão, filho de imigrantes iranianos, que luta contra um vício de álcool. Na realidade, é assim que ele nos é apresentado, como um homem sensível — um poeta — que procura na bebida, na arte e na figura dos mártires uma forma de encontrar sentido para uma vida que ele considera completamente desprovida de significado. Neste livro, parece que cada capítulo é uma reinvenção, tanto na forma usada para contar a história como na perspetiva, o que faz com que seja um romance frenético, que nos põe rapidamente a pensar em muitos temas — no luto, no papel da nossa ancestralidade, na importância da arte, no significado da vida, nas consequências da guerra, na orfandade a que a emigração pode condenar as pessoas, na importância da religião.

 

Living happened till it didn't. There was no choice in it. To say no to a new day would be unthinkable. So each morning you said yes, then stepped into the consequence.

 

Deixo desde já o aviso: não acho que seja um livro para toda a gente, em parte pelo facto de ser muito inventivo na maneira como nos conduz pela narrativa, mas acho que pode ser a leitura ideal para quem gosta de narrativas completamente fora do normal. A história em si é muito bonita, e terminei-a com a sensação de que é um livro muito completo: as personagens estão muito bem construídas, a prosa é lindíssima, mistura pensamentos profundos com humor, e o enredo consegue surpreender o leitor.

 

Não sei se vos acontece, mas quando gosto muito de um livro parece que se torna mais complicado de conseguir expressar tudo o que senti e o que penso de forma coerente, então vou só deixar que as emoções venham ao de cima e recomendar-vos que leiam. Há muito tempo que não ficava tão surpreendida com a capacidade intelectual e criativa de um autor, e Kaveh Akbar conseguiu fazer-me apaixonar por completo.

 

Quem tem este livro debaixo de olho?