James, Percival Everett
Tenho-me esforçado por levar livros diferentes do habitual para o Clube do Livra-te, e James, de Percival Everett, foi uma escolha ponderada. Depois de termos lido todos Demon Copperhead, de Barbara Kingsolver, e de ser uma experiência muito positiva para toda a gente, achei que seria bom voltar aos retellings com este livro, que reimagina a história d’As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain.
Depois de perceber que poderá vir a ser vendido e separado da mulher e da filha, o escravo foge e decide delinear um plano tendo em vista a sua sobrevivência e o resgate da família. É então que se cruza com Huck Finn, um rapaz que finge a própria morte para fugir ao pai agressivo. Não li o livro de Mark Twain, mas também não senti que fosse absolutamente necessário fazê-lo. Percival Everett leva-nos até ao ambiente da história, mas faz de Jim, o escravo, o protagonista — em vez de acompanharmos as aventuras de Huck, é Jim quem nos conduz ao longo da narrativa.
A man who refused to own slaves but was not opposed to others owning slaves was still a slaver, to my thinking.
Gostei tanto de ler este livro e de ver como Percival Everett deu corpo e voz a uma personagem que, no original, era secundária. Além de ter todo o enredo relativo à fuga deste escravo, o livro aborda temas como a importância da palavra escrita, já que a vida de Jim muda quando tem acesso a um restinho de um lápis — é com ele que poderá registar as suas memórias e pensamentos. Apesar de retratar uma época muito particular da História dos Estados Unidos da América, James fala sobre questões que continuam a ser pertinentes aos dias de hoje: sobre a maneira como compactuamos com sistemas opressores, sobre a maneira como desvalorizamos a inteligência de certas pessoas, e sobre como há quem consiga ver muito para lá das crenças que nos tentam impingir à força toda.
Receava que fosse difícil de ler, mas fiquei agradavelmente surpreendida quando percebi o contrário. Tirando os diálogos escritos em «dialeto», que podem ser mais complexos de entender ao início, mas nada que não se ultrapasse rapidamente. Do meu lado, fica a recomendação para pegarem neste livro assim que puderem porque vale mesmo, mesmo a pena.
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