Jonathan Strange & Mr. Norrell, Susanna Clarke
Não é segredo para ninguém que Piranesi, de Susanna Clarke, é um dos meus livros favoritos de sempre — foi uma das histórias mais originais que li nos últimos anos, e falo dela constantemente no Livra-te. Por isso mesmo, estava com muita vontade de me atirar a Jonathan Strange & Mr. Norrell (PT: Jonathan Strange & o Sr. Norrell), supostamente a grande obra da autora.
Acreditem que é preciso alguma coragem para começarmos a ler este livro: as suas quase 900 páginas intimidam, e o facto de ser fantasia também, mas «tirei o penso» de uma vez por todas e não me arrependi. Susanna Clarke leva-nos até ao início do séc. XIX e a uma Inglaterra onde a magia, no passado bastante difundida, parece ter desaparecido. Ainda assim, Mr. Norrell continua vivo e a praticar magia, ajudando o Governo sempre que é necessário. A ordem mantém-se até que um outro mágico aparece e ganha protagonismo. Falamos, claro, de Jonathan Strange.
Os dois passam a representar duas abordagens muito diferentes à magia: Mr. Norrell é conservador e académico, ao passo que Jonathan Strange é carismático e muito mais prático. Se, ao início, Strange se torna mágico sob a alçada de Mr. Norrell, rapidamente os dois vão entrar numa competição feroz, ao mesmo tempo que Inglaterra está em guerra com a França.
For, though the room was silent, the silence of half a hundred cats is a peculiar thing, like fifty individual silences all piled one on top of another.
A autora faz-nos mesmo acreditar que a magia existiu neste período, tal é a forma natural como a inclui nesta narrativa e na vida, tanto das personagens como social e política. Em vez de criar um sistema de magia altamente complexo, com seres e sociedades imaginários, Clarke faz o caminho contrário — não cria um mundo mágico, inclui a magia na realidade que já conhecemos. A par do desenvolvimento das personagens e da interação entre elas, esta foi, sem dúvida, a minha parte favorita do livro. Gostei também de ver que o humor da autora está muito presente na escrita, algo que já tinha notado em outras obras dela que li, mais curtas. Aqui, porém, o humor britânico brilha em todo o seu esplendor, fazendo-nos compreender toda a crítica e sátira implícitas em Jonathan Strange & Mr. Norrell.
Tenho pena de não ter lido este livro numa altura em que estivesse mais descansada, sem grandes responsabilidades ou preocupações, porque sinto que teria entrado ainda mais neste mundo, e que me teria deixado envolver ainda mais pela trama. Terminei o audiolivro com plena noção de que, daqui por uns tempos, quando estiver de férias e totalmente relaxada, vou querer lê-lo de novo. Por enquanto, fica a recomendação — se estão na dúvida sobre se devem ou não agarrar Jonathan Strange & Mr. Norrell, façam-no!
Há por aí leitores de Susanna Clarke?