Ter | 08.04.25
Dream Count, Chimamanda Ngozi Adichie
Depois de, no ano passado, ter lido um dos livros mais antigos e conhecidos de Chimamanda Ngozi Adichie para o Clube do Livra-te, estava curiosa com o lançamento de Dream Count (PT: Inventário de Sonhos) por ser uma abordagem bem mais contemporânea. Esteve nomeado ao Women’s Prize for Fiction e a premissa parecia-me bem, então decidi ler assim que saísse.
Num romance contado através das vozes de quatro mulheres diferentes, a autora leva-nos a pensar sobre os nossos sonhos e desejos mais profundos, sobretudo numa altura da vida em que percebemos que talvez não se concretizem. Quem são estas mulheres? Chiamaka é uma escritora nigeriana a viver nos Estados Unidos da América, que «aproveita» a pandemia para pensar sobre a sua vida amorosa; Zikora, que é a sua melhor amiga, uma advogada de sucesso que se vê perante um dilema complicado; Omelogor é prima de Chiamaka, e começa a repensar aquilo em que acredita quando quer subir na carreira; e Kadiatou, a empregada doméstica de Chiamaka, uma imigrante que só quer educar a filha em solo americano, mas que se verá a braços com uma situação complicadíssima.
Why do we remember what we remember? Which reels from our past assert their vivid selves and which remain dim, just out of reach? I remembered some fleeting encounters so clearly that I wondered if the remembering itself was significant.
Com este livro, aconteceu-me uma coisa curiosa: gostei de coisas de que habitualmente não gosto e não apreciei algumas que costumo apreciar. Por exemplo, gostei muito que o livro fosse mesmo dividido em partes com as perspetivas destas mulheres, em vez de serem capítulos alternados como costumo preferir. Mas também me custou que cada parte tivesse um enredo só seu — embora se cruzassem — em vez de haver uma linha narrativa que unisse toda a história e, como consequência, todas estas mulheres. Diria até que se lê mais como quatro contos interligados do que como um romance tradicional.
Ainda assim, a experiência foi bastante positiva, e parece-me um excelente exemplo de um livro pós-pandémico, em que as personagens são ou foram moldadas pela pandemia. E só para dar uma nota final, porque sei que a questão haverá de surgir, embora saiba que Adichie nem sempre tem as melhores opiniões sobre pessoas transgénero, e que nem sempre se explica da melhor forma, a verdade é que este é um daqueles casos em que consigo perfeitamente reconhecer que este é um bom livro, apesar de não concordar com a visão da pessoa que o escreveu.
Quem desse lado já leu Dream Count? O que acharam?