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Rita da Nova

Qui | 20.03.25

Ainda Estou Aqui, Marcelo Rubens Paiva

Não sei quanto a vocês, mas ver o filme Ainda Estou Aqui foi uma das experiências mais emocionais que tive nos últimos tempos — devo ter chorado uma hora e meia seguida, e só não comecei mais cedo porque não calhou. Adorei tudo: a forma como a história está contada, a prestação dos atores, a banda sonora, a fotografia. Escusado será dizer que era o meu favorito nos Óscares deste ano, não é?

 

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Mal saí da sala de cinema soube que queria prolongar o meu tempo junto desta história, pelo que agarrei o livro mal pude. Talvez as minhas expectativas fossem influenciadas pela forma como o filme me tocou, mas posso desde já dizer que este é um daqueles casos em que o meu coração está com o filme e não com o livro. Ao contrário do que acontece na adaptação, no livro acompanhamos a história desta família afetada pela ditadura militar brasileira através dos olhos de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens Paiva, e senti que a narrativa estava muito mais fragmentada.

 

A génese está lá: certo dia, a vida desta família brasileira muda completamente — e Eunice Paiva terá de arregaçar as mangas e procurar justiça praticamente sozinha. Não vou adiantar mais sobre o que aconteceu para não estragar a experiência de quem ainda não leu ou viu, até porque vale a pena partir completamente às cegas para Ainda Estou Aqui. Ainda assim, acho que preferi a estrutura adotada no filme: a perspetiva de Marcelo, além de se focar mais na sua própria experiência com tudo o que se passou, também tem vários saltos temporais que dificultam a ligação emocional ao que se passou.

 

Uma coisa, porém, ficou muito mais bem desenvolvida no livro: a personalidade de Eunice Paiva. No filme, ela é uma lutadora silenciosa, uma mulher que se vê obrigada a reconstruir toda a sua vida. No livro, confrontamo-nos com mais camadas desta mulher, desde a relação com os filhos ao longo dos anos, passando pela doença de Alzheimer de que começou a sofrer a certa altura (e que no filme é uma espécie de apontamento final).

 

Não pensem, ainda assim, que vos estou a demover de ler o livro, até porque acho que são duas experiências altamente complementares. A minha recomendação, ao contrário do normal, é que vejam primeiro o filme e, depois, venham ao livro procurar mais informações e profundidade em alguns pontos. Quem já contactou com as duas versões, concorda com a minha sugestão? Contem-me tudo nos comentários!