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Rita da Nova

Ter | 04.03.25

The First Person and Other Stories, Ali Smith

Ali Smith foi uma descoberta relativamente recente na minha vida de leitora, e tornou-se uma daquelas autoras de quem, eventualmente, quererei ler tudo. Deu-se uma conjugação de fatores interessante: já não lia nada dela há muito tempo, ando a ler uma coletânea de contos por mês e tinha, cá em casa, este The First Person and Other Stories (PT: A Primeira Pessoa). E foi assim que este livro me serviu de companhia ao longo de fevereiro.

 

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Ao contrário dos livros de contos que tenho lido, notei logo uma grande diferença na dimensão destes: são bastante mais curtos e, por isso, fragmentos de histórias mais do que uma narrativa com princípio, meio e fim. Ao contrário do que poderia parecer, nem por isso senti que lhes faltasse conteúdo ou que tivessem terminado quando ainda havia mais coisas por explorar. A escrita de Ali Smith é especialmente sucinta, ela é mestre em transmitir ideias e emoções com o mínimo de palavras possível, pelo que acaba por resultar muito bem neste formato.

 

Sobre os contos em si, em The First Person and Other Stories encontramos dois grandes tipos de histórias diferentes: textos que brincam com o processo de escrita e as perspetivas que usamos, bem como narrativas que agarram um momento muito concreto da vida das personagens e mostram o seu real impacto, muitas vezes através de diálogo. Admito que o primeiro género de contos foi o que mais me agradou — achei muito refrescantes e diferentes daquilo que habitualmente leio.

 

There were two men in the café at the table next to mine. One was younger, one was older.

We sat in the same café for only a brief amount of time but we disagreed long enough for me to know there was a story in it.

 

Não posso terminar sem destacar os meus favoritos. O primeiro, True Short Story, fala precisamente sobre contos e sobre o que os define. Num café, uma mulher ouve dois homens a falar sobre o tema e decide pensar sobre ele. Em The Third Person, Ali Smith faz um exercício sobre o que a narração na terceira pessoa pode acrescentar a uma história. É muito experimentalista: começamos num espaço e num tempo, mas, como podemos recorrer à terceira pessoa, conseguimos ir conhecendo vários outros. Dentro do mesmo tom, The Second Person é uma história toda contada na segunda pessoa, e é sobre a maneira como vemos os outros (que tantas vezes não se coaduna com a forma como eles próprios se veem). E, para finalizar a minha lista de preferidos, tenho ainda de mencionar Writ, um conto onde a narradora se encontra com o seu «eu» de catorze anos. Gostei muito que a premissa fosse centrada no facto de ser a narradora a fazer perguntas à sua versão mais nova e não o contrário, como habitualmente acontece.

 

Se gostam de uma escrita diferente, que teste constantemente novas formas de apresentar histórias, acho que Ali Smith pode ser uma excelente aposta. Além disso, tem um humor britânico apuradíssimo, o que torna os seus livros muito sui generis. Quem desse lado já explorou a obra desta autora?