Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rita da Nova

Sex | 31.01.25

As Long as the Lemon Trees Grow, Zoulfa Katouh

Será possível que tenha encontrado um dos favoritos do ano logo às primeiras leituras? Pelas constantes recomendações, já sabia que ia gostar de As Long as the Lemon Trees Grow (PT: Onde Crescem os Limoeiros), de Zoulfa Katouh, e foi por isso que o escolhi para o Clube do Livra-te de Janeiro. Além disso, faz parte da Ultimate Livra-te TBR, que estabelecemos no terceiro aniversário do podcast, portanto foi um dois em um.

 

as-long-as-the-lemon-trees-grow-zoulfa-katouh

 

Zoulfa Katouh levam-nos para o contexto da Primavera Árabe, mais especificamente para o meio da Revolução Síria e da subsequente guerra civil. Salama Kassab, de apenas dezoito anos, é a protagonista desta história. Antes de o conflito se instalar, Salama era uma rapariga como todas as outras da sua idade — vivia no seio de uma família feliz, estudava Farmácia e até já havia combinações com um rapaz, com quem falaria eventualmente de casamento. De um momento para o outro, tudo isto muda e é nesse momento que a história do livro começa: a família morreu, tem apenas a companhia de Layla, a sua cunhada grávida, e Salama usa os conhecimentos do curso que estava a tirar para ajudar como voluntária no hospital de Homs.

 

Os dias de Salama dividem-se, então, entre cuidar dos feridos que aparecem no hospital em estados gravíssimos, e proteger Layla até conseguirem encontrar uma solução. Dentro da protagonista, surge então o dilema que vai orientar toda a narrativa: deve meter-se num barco rumo à Europa antes que a sobrinha nasça, ou deve permanecer em Homs, para ajudar como pode? Não é uma decisão que deva estar nos ombros de uma rapariga tão nova, e confesso que isso, a par de todas as descrições gráficas do que se passava no hospital, foi uma das coisas que mais me impressionou neste livro. Embora seja uma obra de ficção, não há como negar que muitas pessoas como Salama tenham vivido cenários assim (ou ainda piores).

 

Survivor's skin is a remorse we are cursed to wear forever.

 

Apesar de, com alguma distância, conseguir identificar alguns pontos da narrativa que foram demasiado esticados, ou outros em que gostaria de um desenvolvimento diferente, a verdade é que esta foi uma leitura primariamente emocional para mim. Senti-me mesmo muito ligada às personagens, adorei a forma como todo o contexto histórico é transmitido ao leitor, e estive sempre muito investida em tudo o que estava a acontecer. Até o facto de ter adivinhado o plot twist do livro foi secundário — como está bastante bem executado, não perturbou em nada a minha experiência de leitura.

 

Creio que, hoje mais do que nunca, com a situação extrema que vemos acontecer na Palestina, é altura de ler livros como As Long as the Lemon Trees Grow — livros que nos mostram as condições em que tanta gente vive, as decisões que são forçadas a tomar, a sensação de perda de casa. Nenhum migrante gosta da ideia de ter de sair do seu próprio país, muitas vezes arriscando a sua própria vida por um vislumbre de uma realidade melhor, e esta história pode ajudar muita gente a compreender melhor as coisas por que estas pessoas passam.

 

Acho que já perceberam que recomendo muitíssimo este livro, certo? Leram-no connosco no Clube do Livra-te ou planeiam fazê-lo no futuro? Contem-me tudo!

----------

O que é o Clube do Livra-te?

É o clube do livro do podcast Livra-te — calma, não precisam de acompanhar o podcast para participar nas leituras. Todos os meses, cada uma de nós escolhe um livro para ler em conjunto convosco e vocês podem optar por ler a escolha da Joana, a escolha da Rita ou ambas. Depois, podem deixar a vossa opinião no grupo do Goodreads ou no Discord. Podem juntar-se a qualquer altura, venham daí!